As revoluções liberais europeias e a revolução haitiana levaram o ideário da liberdade a uma posição de protagonismo, rompendo com os laços senhoriais e da escravidão, incentivando um conjunto de novas relações de trabalho. Acelerou-se, através da industrialização, as transformações capitalistas nos territórios, mas como todos os sistemas socioeconômicos, apresentam contradições. Qual a principal contradição do ideário de liberdade das revoluções europeias? A revolução Haitiana apresenta um interpretação mais radical e necessária, por quê?
Soluções para a tarefa
Por intermédio da análise do relato do abolicionista francês Victor Schoelcher sobre o Haiti, publicado em 1843, este artigo questiona a interpretação do antropólogo Rolph Trouillot sobre o caráter "impensável" da Revolução Haitiana. Ao mesmo tempo em que esta última tem sido ignorada, distorcida ou tratada com incompreensão pelo Ocidente, o uso da noção de "impensável" para interpretar sua recepção contribui para outra forma de incompreensão, ao eliminar de qualquer consideração os contextos históricos e políticos que constituem a resistência. O texto de Schoelcher representa um esforço notável de "pensar" o Haiti e a Revolução Haitiana através dos pressupostos do Republicanismo francês. Suas interpretações revelam a ampla gama de possibilidades oferecidas pelo pensamento iluminista. Elas convergem com o pensamento e a prática das massas haitianas e das populações escravizadas das colônias francesas das Índias Ocidentais, mas não são inteiramente coincidentes. A não-identidade destes pensamentos dá forma ao espaço da política entre Schoelcher e os escravos e constitui um terreno necessário para a análise histórica.