As palavras
Há palavras boas e palavras más, palavras bonitas e palavras feias. A palavra Portugal é muito bonita, mas a palavra Trancos não é. Há palavras que não dão com as coisas para que servem, Lua, por exemplo, dá, não podia ser outro nome porque não era essa coisa, mas caderno não dá. Lembra inverno e inferno e os cadernos dependem, nem todos são horríveis, só o de matemática para mim. Folha também dá para coisas demais, tem de ser folha disto e daquilo, do livro, a árvore. As palavras também servem para dizer e consolar ou sofrer. Essas não são uma a uma, como as que eu escrevi antes, são em frases, isto é, todas de seguida. Boa, por exemplo, é uma palavra boa, parece macia, mas se a pessoa nos diz “a menina não é boa”, a abanar a cabeça, isso pode afligir muito. Há palavras que postas assim saem ao contrário — por exemplo, fresca. Se for fruta é bom, se for para pessoas, não. A palavra triste, por exemplo, é uma palavra azul, porque quase todas as palavras têm cores, e parece que está a pedir que se calem e a palavra riso que é amarela, só por si não dá para a gente se rir. A palavra mãe é grosso demais para o que é e a palavra pai é muito clara e leve demais.
E agora vou inventar a palavra desinteligente que é o que eu acho que sou por causa da confusão que me fazem as palavras e de estar sempre calada. Ao escrever as palavras são feitas de letras e só se ouvem na cabeça. Fim.
(Redação de Mariana, uma menina de Lisboa, aluna da quarta série de um estabelecimento de ensino dirigido por religiosas).
Depreende-se da leitura do texto que
A
ele é dissertativo, pois contém a exposição de uma tese sobre a linguagem e vários argumentos que sustentam o ponto de vista do enunciador.
B
embora possua elementos descritivos, nele predomina a argumentação, pois o enunciador enumera algumas das principais características do mundo da linguagem (as camadas de som e de sentido das palavras e a arbitrariedade dos signos linguísticos em relação aos objetos que nomeiam).
C
se trata de uma narração, na medida em que o enunciador relata uma experiência pessoal com o mundo das palavras, transformadas em personagens que vivem um conflito de natureza subjetiva (o narrador versus palavras).
D
se trata de uma composição híbrida em que predomina uma reflexão metalinguística (reflexão sobre as palavras que implica uma reflexão sobre o ato de escrita), feita por meio de elementos poéticos (linguagem lúdica e intuitiva, emprego de rimas, exploração do estrato sonoro da palavra).
E
ele é metalinguístico, de caráter predominantemente narrativo, cuja linguagem, por pertencer ao registro informal e revelar várias impropriedades gramaticais, pode ser considerada como típica do universo infantil.
Soluções para a tarefa
Este é um texto metalinguístico, sem caráter narrativo, sendo a alternativa correta a letra D.
Explicação:
A metalinguagem é usada para descrever outras linguagens, com reflexões a respeito da escrita e de cunho, muitas vezes, pessoal. E elementos poéticos são elementos onde o autor utiliza, por exemplo, linguagem fora do sentido literal e se permite fazer afirmações quase errôneas em prol de uma mensagem subjetiva, como quando se afirma que uma palavra parece macia ou que uma palavra é uma palavra azul.
Não é um texto dissertativo, porque um texto dissertativo tem como objetivo convencer o leitor de algo, não é um texto onde predomina a argumentação, porque quem escreveu este texto está apenas expondo sua opinião e não se trata de uma narração e o autor não criou personagens.
Resposta:
Ajuda ai
Explicação:
I – O texto tem a forma de uma redação escolar, na qual se desenvolve o ponto de vista de uma aluna, a respeito do mundo das palavras. II – A autora do texto percebe que as palavras são feias de sons e sentidos, além de nomearem as coisas que existem. Perece, também, que é necessário saber combiná-las para que elas digam o que se quer. III – Embora se ache “desinteligente” e seu texto apresente alguns problemas, em relação ao uso da linguagem escrita, a autora demonstra uma percepção aguda e sensível do universo da linguagem. Está(ão) correta(s): *