AS DIFERENÇAS ENTRE AS SOCIEDADE EUROPEIA CRISTÃ EM RELAÇÃO A TODA SOCIEDADE ISLÂMICA (ECONOMIA, POLÍTICA E RELIGIÃO)
Soluções para a tarefa
Além desta questão epistemológica, existe uma questão moral, ou melhor, uma chantagem moral sempre presente na literatura multiculturalista e politicamente correcta: por norma, qualquer crítica ao islão ou ao islamismo é apelidada de islamofóbica ou de racista. Ian McEwan e Martin Amis, por exemplo, criticaram o extremismo islamita existente no Reino Unido; criticaram, sobretudo, a intolerância do islamismo em relação às mulheres e aos homossexuais. Em resposta, certos sectores da esquerda britânica apelidaram de «racistas» e «islamofóbicas» as declarações de Amis e McEwan19. Ora, quando alguém que defende as mulheres e os homossexuais – perante a evidente homofobia e misoginia do islamismo – é apelidado de «racista», então, estamos perante um ambiente intelectual completamente deturpado e sem as condições para um debate sério sobre o problema do islamismo na Europa. Todo este debate está minado pela palavra racista; o medo de ser catalogado de racista contamina aqueles que escrevem sobre este assunto. Mesmo na literatura académica – que deveria estar imune a estas modas jornalísticas e políticas – existe esta carga politicamente correcta: num artigo académico, Bassam Tibi (intelectual sírio; professor universitário na Alemanha) vê-se forçado a referir constantemente que as suas críticas ao islamismo não podem ser confundidas como islamofobia ou racismo20. Tibi não estava a escrever para um jornal de grande tiragem, mas sim para um journal intitulado Totalitarian Movements and Political Religions.
Como afirma Bassam Tibi, é preciso criticar os defensores do choque de civilizações (que ligam o terrorismo ao islão como um todo) e os «politically correct Westerns» (que recusam ver qualquer ligação entre o terrorismo islamita e o islão). Só conseguiremos alcançar algum resultado analítico
ISLAMISMO, A IDEOLOGIA
Existe uma diferença entre as várias culturas islâmicas e a ideologia islamita32. Um islamita é alguém que defende ou pratica o recurso às armas, por oposição ao muçulmano que é meramente um crente na fé islâmica33. Aliás, até podemos dizer que a primeira característica do islamismo é o seu ódio às diferentes culturas islâmicas. Convém sempre lembrar que o bombista suicida – o arquétipo da violência muçulmana – ameaça, em igual medida, os ocidentais e a maioria dos muçulmanos34.
O islamita combate a diversidade da civilização muçulmana, isto é, quer impor uma única visão do islão aos diferentes islões nacionais/tradicionais; os islamitas recusam a ideia de que o islão de Marrocos pode ser diferente do islão do Egipto35, ou seja, o radicalismo islamita luta contra os islões tradicionais típicos de cada região36. Quando Mark Gould37 afirma que o islamismo é uma extensão do islão e não a sua negação, está a cometer um erro. O islamismo não é simplesmente um excesso de islão; claro que os islamitas saem de um contexto islâmico, mas a sua natureza rasga, por completo, com a ortodoxia islâmica e com as tradições culturais de cada região.
O islamismo radical tem duas grandes faces: o wahhabismo e o qutbismo. O wahhabismo (de raiz saudita) apresenta uma atitude reaccionária, enquanto o qutbismo (de raiz egípcia) tem um carácter revolucionário. Os wahhabitas praticam, digamos, um islão defensivo; há uma preocupação apenas com o statu quo do seu espaço. O qutbismo apresenta um islão ofensivo, que procura revolucionar o statu quo de todas as nações. Os wahhabitas vivem de acordo com as regras que marcavam a vida do Médio Oriente há catorze séculos; numa interpretação estrita da sharia, defendem um regresso ao passado puro. O qutbismo é diferente. As suas influências são o anticolonialismo, o anti-iluminismo e o ideário anti-Ocidente que colheu junto de ideologias ocidentais como o vitalismo nacionalista, fascismo/nazismo e comunismo38. Ao contrário do fundamentalismo wahhabita, o qutbismo não é um fenómeno da Idade Média; é um produto da Modernidade. Os ideólogos desta ideologia (Mawdudi, al-Banna, Khomeini e, acima de tudo, Sayyid Qutb) quiseram transformar o islão numa ideologia política moderna39.