As coisas do mundo
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa
Com sua língua ao nobre o vil decepa;
O Velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
(Gregório de Matos Guerra, Seleção de Obras Poéticas)
Vocabulário
Carepa: caspa, sujeira.
Vil: ordinário, desprezível.
Velhaco: trapaceiro, enganador, patife.
Increpa: censura, repreende.
Inculca: apresenta aparência de algo.
Garlopa: ferramenta de marcenaria para aparar madeira.
1. Nesse poema, Gregório de Matos critica a sociedade baiana de sua época.
a) Que classes sociais são alvo da crítica? (1,0 pt)
b) Que comportamentos dessas pessoas são criticados? (1,0 pt)
2. Até a 3a estrofe o poema mantém um tom sério, de crítica moralizante. Porém, na
última estrofe o tom muda e a crítica se torna cômica. Explique o que significa o verso:
“Para a tropa do trapo vazo a tripa”: (1,0 pt)
3. Que figura de linguagem o poeta usou no verso “Quem mais limpo se faz, tem mais
carepa”? (1,0 pt)
4. Justifique a grafia da palavra “porque” no verso “E mais não digo, porque a Musa
topa”. (1,0 pt)
Soluções para a tarefa
Resposta: No poema de Gregório de Matos percebemos uma critica mordaz a sociedade colonial
Explicação:
1-
a) Em seu poema, Gregório de Matos, cânone literário nacional crítica a sociedade colonial: autoridade, políticos, clérigos e todos cidadãos que tivessem algum tipo de comportamento incoerente, indigno e vicioso.
b) A obra deste poeta criticava comportamentos desprezíveis, entre eles, defender a moral e os bons costumes, no entanto ser corrupto e pecaminoso; ser uma autoridade politica e abusar do poder; ter orgulho do sangue português e na verdade ser mestiço...
2- No verso "Para a tropa do trapo vazo a tripa" , o autor do poema revela que não irá esconder nem velar nenhum tipo de comportamento injusto e desonesto, pois a tropa do trapo é na verdade, o grupo de pessoas(tropa) vis, inescrupulosas(trapo) . E essas pessoas terão todos seus segredos, mal feitos(tripa) denunciados( vazo , de vazar, pôr pra fora, denunciar)
3- No verso "Quem mais limpo se faz, tem mais carepa" o poeta faz uso da Antítese, Figura de linguagem usada para opor ideias. No caso citado temos o vocábulo limpo em contraposição a palavra carepa(sujeira).
4- No verso "E mais não digo, porque a Musa topa usamos a palavra porque" com a grafia junta, pois trata-se de uma conjunção explicativa, sendo a justificativa para a informação anterior. Ou seja, o poeta revela todos os erros da sociedade, pois a Musa permite .