Arte e Identidade (CompanhiaDéjà-vu de Teatro)
Alguém pode elaborar um texto sobre isso pra ontem!!!
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Resposta:
Já é bem conhecido o quanto “fazer teatro” faz parte do mundo adolescente. Ensaiar-se em “ser outro” é a dinâmica própria de quem está “em passagem”, por isso mesmo seja no grupo da escola, no clube do bairro ou mesmo nos cursos de artes dramáticas, o “apresentar-se” a uma plateia é importante a alguém que ainda não sabe bem quem realmente é ou quem pode vir a ser neste mundo. “Ser visto”, “soltar a própria voz”, “sondar novos espaços” faz parte de uma trajetória de “produção de si” que o adolescente é certamente o maior porta-voz. Por isso mesmo ensaiar-se numa das artes cênicas ( música, teatro, dança) é tão frequente no período que chamamos de adolescência, mas que não se reduz a este pois “estar em passagem” diz respeito a uma condição essencial do sujeito contemporâneo, seja a idade que tiver. É o resultado destas experiências que fizeram nascer a peça teatral “Adolescer”, concebida e dirigida por Vanja Ca Michel, uma professora de teatro que com sensibilidade e extremo interesse pelos jovens deu “corpo” e arte a estas criações que fazem a função de rituais de passagem na cena moderna.
“Adolescer” completou este ano 10 anos em cartaz. Nasceu do contato da diretora com os adolescentes de escolas, de pesquisas feitas sobre o mundo adolescente e do apoio de alguns profissionais. A peça parece não ter a ambição de ser conhecida como um grande espetáculo, mas sim a de ser vista por muitos adolescentes, de mais de uma geração. O que envolve na peça de Vanja é o que poderíamos chamar de “honestidade dramática”. O elenco é de adolescentes falando de seu próprio mundo, com sua própria linguagem, através da dança e de diálogos cheios de humor. A honestidade vem da impressão nítida de que os adolescentes tomam conta do espetáculo, sem pretensões de grande dramaticidade.
”Colocar em cena” o que se passa na adolescência, como fez Vanja, é acreditar na adolescência como arte, possibilitando aberturas e novos caminhos de interpretação aos temas que dizem respeito a esta operação psíquica. O valor neste caso é sair do discurso técnico ou educativo e possibilitar que cada um possa ali sugerir um pedaço de caminho ou saída possível. O espetáculo é tão dinâmico que renova constantemente seu elenco, acrescenta coreografias e cria textos com novos diálogos. Assim como a adolescência, a composição do espetáculo é móvel, transitando no tempo e no espaço, permitindo todo tipo de identificações com as questões e estilos que apresenta. Também como o “estar em passagem” da adolescência, o espetáculo é nômade, percorrendo várias cidades e enfrentando todo tipo de condições (as vezes precárias) para tornar possível sua apresentação .
Os temas que “Adolescer” aborda é assunto que diz respeito a todos, pois a adolescência é mais uma condição psíquica que caracteriza nossa modernidade, do que uma etapa da vida. Quem somos nós, o que fazer com nossas escolhas, com a incerteza do caminho a seguir e como lidar com nossas perdas diz respeito à intimidade de cada um, por mais adulto que se proponha a ser. Apesar de colocar em cena questões muito sérias, o tom do espetáculo é de alegria, o espectador aos poucos vai sendo levado a mergulhar no clima de comicidade, musicalidade e movimentação no palco e vai descobrindo que há mais adolescência nele do que imaginava. O estilo cômico e criativo da peça parece romper as resistências da platéia abrindo verdadeiras portas de diálogo. Os temas que veiculam questões cruciais e difíceis entre as gerações como: a incomunicabilidade entre pais e filhos, o alcoolismo na família, a drogadição dos filhos, a solidão, o suicídio, o bulling, a sexualidade e as difíceis relações com a autoridade são abordados com leveza, mas com a coragem de um convite para implicar a todos no assunto.
A peça se atualiza a cada ano, para poder incluir novas imagens da adolescência e colocá-las também na conversa. O resultado é a mistura de velhos e novos estilos de adolescer, incluindo representantes de grupos como Hippies, Emos, Coloridos, Rockeiros e ainda os adeptos à cultura Japonesa. Através deles, situações presentes nas diferentes experiências da iniciação sexual: a gravidez precoce,o aborto, a homossexualidade, a inibição, o “ficar”são representados através de pequenas cenas. A idéia parece ser: tocar no assunto, colocar em cena a questão, instigar o espectador em “pensar sobre”, sem pretensões de apresentar soluções pedagógicas, morais ou de qualquer resposta de especialidade científica.