ART. II - Da posição das pernas
As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam
os passageiros do mesmo banco. Não se prolbem formal-
mente as pernas abertas, mas com a condição de pagar
os outros lugares, e fazê-los ocupar por meninas pobres
ou viúvas desvalidas, mediante uma pequena gratificação.
ART. III - Da leitura dos jornais
Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver len-
do, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos,
nem levar-lhes os chapéus. Também não é bonito encos-
tá-los no passageiro da frente.
ART. IV - Dos quebra-queixos
É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circuns-
tâncias: - a primeira quando não for ninguém no bonde,
e a segunda ao descer.
ART.V - Dos amoladores
Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios Intimos, sem interesse para
ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidencia, se ele é as-
saz cristão e resignado.
No caso afirmativo, perguntar-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo
provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso, aliás
extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve
fazê-lo minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais, repetindo os ditos,
pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra.
ART. VI - Dos perdigotos
Reserva-se o banco da frente para a emissão dos perdigotos, salvo nas ocasiões em que a chuva
obriga a mudar a posição do banco. Também podem emitir-se na plataforma de trás, indo
passageiro ao pé do condutor, e a cara para a rua.
ART. VII - Das conversas
Quando duas pessoas, sentadas a distância, quiserem dizer alguma coisa em voz alta, terà
cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras, e, em todo caso, sem alusões malici
sas, principalmente se houver senhoras.
ART. VIII - Das pessoas com morrinha
As pessoas que tiverem morrinha podem participar dos bondes indiretamente: ficando na
çada, e vendo-os passar de um lado para outro. Será melhor que morem em rua por onde
passem, porque então podem vê-los mesmo da janela. esse é o texto me ajudem pfv
Soluções para a tarefa
Resposta:
Este curioso texto foi redigido por um dos maiores escritores brasileiros, Machado de Assis, e segue reproduzido na ortografia original, como aparece na enciclopédia Nosso Século (Editora Abril Cultural, S.Paulo, 1980, vol. I):
Ocorreu-me compôr umas certas regras para uso dos que frequentam os bonds.
O desenvolvimento que tem tido entre nós este meio de locomoção, essencialmente democratico, exige que elle não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extractos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos. Vão apenas dez.
Art. I - Dos Encatarrhoados - Os encatarrhoados podem entrar nos bonds, com a condição de não tossirem mais de trez vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.
Quando a tosse for tão teimosa que não permita esta limitação, os encatarrhoados têem dous alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercicio, ou metterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.
Os encatarrhoados que estiverem nas extremidades dos bancos devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no proprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçonico, vocação etc., etc.
Art. II - Da Posição Das Pernas - As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco. Não se prohibem formalmente as pernas abertas, mas com a condição de pagar os outros lugares, e fazel-os occupar por meninas pobres ou viuvas desvalidas mediante uma pequena gratificação.
Art. III - Da Leitura Dos Jornaes - Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéos; também não é bonito encostal-o no passageiro da frente.
Explicação: