Ariano Suassuna (1927-2014) é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros contemporâneos. Em suas peças, aspectos profundos da nossa sociedade são apresentados no contexto da cultura popular nordestina, com muita leveza e humor. O texto a seguir é um trecho da peça Auto da Compadecida.
JOÃO GRILO: — Padre João! Padre João!
PADRE (aparecendo na igreja): — Que há? Que gritaria é essa?
CHICÓ: — Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer um cachorro que está se ultimando para o senhor benzer.
PADRE: — Para eu benzer?
CHICÓ: — Sim.
PADRE (com desprezo): — Um cachorro?
CHICÓ: — Sim.
PADRE: — Que maluquice! Que besteira!
JOÃO GRILO: — Cansei de dizer a ele que o senhor benzia. Benze porque benze, vim com ele.
PADRE: — Não benzo de jeito nenhum.
CHICÓ: — Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.
JOÃO GRILO: — No dia em que chegou o motor novo do major Antônio Morais o senhor não o benzeu?
PADRE: — Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.
CHICÓ: — Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.
PADRE: — É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?
JOÃO GRILO: — É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e uma coisa é benzer o motor do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do major Antônio Morais.
PADRE (mão em concha no ouvido): — Como?
JOÃO GRILO: — Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do major Antônio Morais.
PADRE: — E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio Morais?
JOÃO GRILO: — É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse, mas o major é rico e poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de perder meu emprego, fui forçado a obedecer, mas disse a Chicó: o padre vai se zangar. Padre (desfazendo-se em sorrisos): — Zangar nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter direito de se zangar? Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o cachorro!
JOÃO GRILO (cortante): — Quer dizer que benze, não é?
PADRE (a Chicó): — Você o que é que acha?
CHICÓ: — Eu não acho nada de mais.
PADRE: — Nem eu. Não vejo mal nenhum em abençoar as criaturas de Deus.
JOÃO GRILO: — Então fica tudo na paz do Senhor, com cachorro benzido e todo mundo satisfeito.
PADRE: — Digam ao major que venha. Eu estou esperando.
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1988. p. 31.
Ultimando: está nas últimas, ou seja, está morrendo.
(Unesp-SP) Na cena de Auto da Compadecida:
A
fica claro o caráter de denúncia das relações de interesse na sociedade, o que elimina o humor da situação apresentada.
B
ao mudar de opinião a respeito da decisão de não abençoar o cachorro do major Antônio Morais, o Padre demonstra verdadeira compaixão cristã.
C
o trecho busca apenas o riso do espectador, portanto não há nenhuma conotação de crítica social.
D
a linguagem da cena demonstra o caráter social elevado tanto do tema quanto das personagens.
E
João Grilo pode ser associado aos personagens folclóricos marcados pela esperteza, que sempre conseguem o que desejam por meio de jogos de palavras e artimanhas.
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João Grilo pode ser associado aos personagens folclóricos marcados pela esperteza, que sempre conseguem o que desejam por meio de jogos de palavras e artimanhas.
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ALTERNATIVA E
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GABARITO PLURALL
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