Ardor em coração firme nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!
Tu, que um peito abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.
Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! que andou Amor em ti prudente.
Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.
1) Quais são os dois elementos da natureza que se opõem e representam as contradições que o sentimento amoroso desperta no eu lírico?
a) O que cada um deles simboliza no poema?
b) Nas duas primeiras estrofes, quais são as imagens e metáforas utilizadas pelo eu lírico para fazer referência a esses elementos?
2) Releia.
“Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:”
a) Qual é a figura de linguagem que indica a tensão entre os opostos? Explique.
b) Há outros exemplos dessa figura no poema? Quais?
c) O Barroco apresenta não apenas o confronto dos opostos, mas também sua fusão ou aproximação. Como ela pode ser observada nos versos transcritos?
3) Quem é o interlocutor a que o eu lírico se refere na segunda e na terceira estrofe?
a) Como ele é caracterizado?
b)Qual é o questionamento feito pelo eu lírico nesses versos?
4) No soneto, vemos a habilidade de Gregório de Matos em trabalhar a linguagem para conciliar os opostos. Releia os versos a seguir, observando os trechos destacados em negrito e em itálico.
“Se és fogo, como passa brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?”
“Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.”
a) No início do poema, o eu lírico apresenta a oposição entre o calor e o frio, o fogo e a água, a paixão e a contenção (ou refreamento). Explique de que maneira os dois primeiros versos transcritos acima encaminham a fusão que ocorrerá entre esses elementos opostos no fim do poema.
b)As expressões destacadas nos dois últimos versos são paradoxos, construídos a partir da oposição dos mesmos elementos: frio x calor; fogo x neve. Elas encerram o mesmo sentido? Por quê?
c) Considerando que a neve simboliza a prudência/o controle e o fogo, a paixão, qual o significado no contexto do poema, das expressões “neve ardente” e “chama fria”?
5) O eu lírico afirma que o Amor “temperou” sua tirania. De que maneira isso foi feito? Por quê?
Soluções para a tarefa
-incêndio em mares de água disfarçado !
-rio de neve em fogo convertido !
1-)a -0 ardor é o incêndio e o pranto é o rio .
B-METÁFORAS -- Lágrimas de amor: fogo e neve”
2-a)figura de linguagem que representa os opostos --> é a Antítese ela se opõe a duas ideias de sentido contrário :
" tu ,que em um peito abrasas escondido
Tu quem um rosto corres desatado ;
Quando fogo , em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido ."
2b)sim ardor /pranto e neve ardente / chama fria
2c)0 poeta pergunta -se como este sentimento é possível e constata que o amor fundiu os opostos
3- )0 interlocutor se refere à sua amada
3-b)tu que um peitoabrasas escondido
Tu que em rosto corres destacado
4A- o poeta fala do sentimento que arde no coração de sua amada é um sentimento interior ; e ele se transforma em lágrimas quando ela chora é um sentimento exterior .Ele faz um jogo de opostos pelo fogo /água /calor e frio .
4b- as ANTÍTESES são entre o ardor e o pranto ---> o eu LIRICO quer dizer que o AMOR se abrasa no peito e quando em CHAMAS se derrete o ARDOR se transforma em PRANTO .
4c- qualifica a neve e o fogo por adjetivos ao contrário --> neve ardente e chama fria .
5-)"0 amor temperou sua tirania " o eu -LIRICO constata que o amor afetou a prudência de sua amada ,fundiu os opostos --> a neve aqueceu e o rio denegue derreteu .
1. O fogo (ardor) e a água (pranto, contenção).
a) O fogo simboliza a paixão que toma o eu lírico, e a água, o pranto pelo sofrimento amoroso, mas também pode ser interpretada como a contenção dessa paixão (a neve, que se derrete diante do sentimento amoroso).
b) As imagens utilizadas para fazer referência ao fogo são: “ardor”, “incêndio”, “abrasas”, “chamas” (há também uma referência explícita ao "fogo”). Para a água, temos: “pranto”, “mares de água”, “rio de neve”, (o rio ou pranto que) “corres desatado”, “cristais”.
2. O interlocutor é o sentimento amoroso, a paixão.
a) A paixão é caracterizada a partir de duas diferentes manifestações: ela “queima” escondida no peito do eu lírico e corre em pranto pelo seu rosto. Além disso, é fogo e, quando assim se manifesta, está aprisionada em cristais, simbolizando a contenção ou a prudência com relação a esse sentimento; quando cristal, é derretido pelas chamas.
b) O eu lírico questiona a contradição na manifestação do sentimento amoroso: se ele é fogo, não deveria passar brandamente; se é neve, não poderia queimar tanto. Mais uma vez, temos as contradições da paixão, que confundem o eu lírico por sua manifestação conflituosa.
3. a) A figura que indica essa tensão é a antítese: o eu lírico opõe os termos “incêndio” a “mares de água”, e “fogo” a “rio de neve”.
b) Abrasas × corres desatado; fogo × cristais; cristal × chamas; fogo × neve.
c) A fusão ou aproximação dos opostos se dá pela transformação dos elementos que simbolizam os sentimentos descritos (a paixão e a contenção): o “incêndio” está disfarçado em “mares de água”; o “rio de neve” se converte em “fogo”. Assim, a paixão (incêndio/fogo) se funde com a manifestação de seu refreamento/sofrimento (mares de água/rio de neve).
4. a) Nos dois versos, há paradoxos que encaminham a fusão completa entre os opostos que se concretizará nos versos finais. Ao questionar a contradição extrema que há entre um “fogo que passa brandamente” e a “neve que queima”, o eu lírico aproxima os elementos que se fundirão em uma única expressão nos últimos versos (“neve ardente”/“chama fria”).
b) Não. Embora sejam construídas a partir da oposição dos mesmos elementos, temos uma inversão na posição de cada um deles: em “neve ardente”, o primeiro elemento refere-se ao frio e o segundo ao calor; em “chama fria”, temos primeiro a referência ao calor e depois ao frio. Por si só, essa inversão já altera o significado de cada expressão; mas, no contexto do poema, essa diferença é mais significativa.
c) O paradoxo “neve ardente” pode ser interpretado como a contenção que desaparece quando a paixão nasce; por oposição, “chama fria” pode significar a paixão “controlada”, que não representa ameaça ou descontrole (não queima).
5. O Amor, segundo o eu lírico, utilizou uma estratégia para “disfarçar” a sua tirania, fazendo com que parecesse menos ameaçadora: o que ele desejava era despertar um sentimento mais arrebatado (“como quis que aqui fosse a neve ardente”) que eliminasse qualquer defesa ou prudência contra a paixão. Para que isso de fato ocorresse, fez com que a paixão parecesse, primeiro, um sentimento contido (“Permitiu parecesse a chama fria”). Assim, garantiu que o eu lírico não se precavesse contra a paixão que ameaçava dominá-lo.