Análise do Capítulo XLVI (Quincas Borba - Machado de Assis):
"O rumor das vozes e dos veículos acordou um mendigo que dormia nos degraus da igreja. O pobre diabo sentou-se, viu o que era, depois tornou a deitar-se, mas acordado, de barriga para o ar, com os olhos fitos no céu. O céu fitava-o também, impassível como ele, mas sem as rugas do mendigo, nem os sapatos rotos, nem os andrajos, um céu claro, estrelado, sossegado, olímpico, tal qual presidiu às bodas de Jacó e ao suicídio de Lucrécia. Olhavam-se numa espécie de jogo do siso, com certo ar de majestades rivais e tranqüilas, sem arrogância, nem baixeza, como se o mendigo dissesse ao céu:
— Afinal, não me hás de cair em cima.
E o céu:
— Nem tu me hás de escalar".
Soluções para a tarefa
Resposta: A intenção do autor
Explicação:
Queria me contrapor ao que foi dito sobre o mendigo pretender permanecer estático. Na verdade, pelo que eu entendi, o diálogo entre o céu e o mendigo é de aviso: não irás me escalar. Se pensarmos na sociedade organizada de baixo pra cima, quanto mais acima maior poder, como o do capitalista Rubião, vamos ver uma face desse capítulo: a condição de mendigo é perpetuada, conservada aos que não têm oportunidade nem sorte não por vontade de permanecer nessa condição, mas pela concentração de riqueza e maior beneficiação dos que já estão em condições de subsistência confortável. Então, o mendigo não deixa de sê-lo pelo “céu”, que de cima lhe dá o aviso de que “não hás de me escalar” enquanto o mendigo suplica “afinal não me hás de cair em cima”, indicando que ele tem a intenção de escalar ao céu.
Além disso, Rubião que já estaria no céu está inquieto em pensamentos, dividido entre moral e instinto por conta da Sofia e Palha. Machado critica constantemente a hipocrisia burguesa da época. Enquanto os românticos em outros livros tratavam o casamento como fim dos problemas (como D. Tonica vê), Machado tem um tom de ruptura dessa tradição ao revelar o adultério e o interesse, mau-caratismo… Digo isso porque se ele faz isso com a classe que está acima, a que está abaixo ele demonstra benevolência e traz um olhar que privilegia a condição de pobreza por “não ter de se preocupar” em usar as máscaras sociais o tempo todo. Mas isso não quer dizer que ele queira q todos virem mendigos, ele só mostra que talvez as respostas para os conflitos humanos não estejam naqueles de cima, mas onde os olhos normalmente ignoram, pois o que está aí no céu encontra-se corrompido e pútrido.