Question

Amor e Tempo
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera !
São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge.

O texto apresentado se trata de um sermão, que tem como característica o(a)

A) tendência moralizante, com forte apelo religioso e reflexão sobre a efemeridade da vida.

B) uso de metáforas e comparações como tentativa de retomar o caminho do espiritualismo medieval

C) tendência ao texto didático, com vocabulário simples, idealização da pessoa amada e convencionalismo amoroso

D) presença do cultismo no plano linguístico e do conceptismo nas ideias, indicando certa descrença em relação ao amor.

E) dualismo filosófico ou teológico, com linguagem vaga e rebuscada, com intenção de convencer o ouvinte das ideias apresentadas

Answer 1

Resposta:

A resposta correta é a letra d, segue:

D) presença do cultismo no plano linguístico e do conceptismo nas ideias, indicando certa descrença em relação ao amor.

No sermão, de autoria do Padre Antônio Vieira, é apresentada linguagem culta e conceptismo de ideias (também chamado de quevedismo), ou seja, jogo de ideias bem articulado sobre a natureza do amor em relação ao tempo.

Natureza essa caracterizada pela pouca duração ( como é visto claramente no trecho "não há amor tão robusto que chegue a ser velho"), pela efemeridade, revelando uma concepção de descrença do autor nesse sentimento.

Espero ter ajudado, bons estudos!