Alguém poderia me explicar como funcionava a "política dos bilhetinhos" de Jânio Quadros (1961)?
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Resposta:
Em data indeterminada de 1961, o secretário particular do presidente Jânio Quadros, José Aparecido de Oliveira, recebeu do chefe um dos bilhetinhos manuscritos que eram marca do autor desde sua época de prefeito de São Paulo. "Leio a um jornal que o ministério está em crise... Veja se a localiza para mim", pedia, irônico, o presidente.
E prosseguia: "Leio, também, que recebi, da Fazenda, um bilhete "enérgico". Desminta. O ministro é educado, bastante, para não escrevê-lo ao presidente. E o presidente não é educado, bastante, para receber tal bilhete". Em 10 de março de 1961, o ministro da Fazenda, Clemente Mariani, registrou uma ordem datilografada - e inusitada - de Jânio."1) Recolher ao Tesouro cédula em anexo, de um dólar, enviada pelo estudante Carlos Alberto Allgayer, do Rio Grande do Sul. 2) Já agradeci."
Tanto o bilhete escrito à caneta azul, em papel da Presidência, sem data nem assinatura, como o texto batido à máquina e assinado com o característico "J. Quadros" hoje integram o acervo do governo Jânio Quadros recolhido ao Arquivo Público Mineiro, como parte do Fundo José Aparecido, em Belo Horizonte. O material foi passado à instituição pela família de Aparecido após sua morte em 2007. São centenas de mensagens, algumas tratando de assuntos importantes, como obras, medidas econômicas e relações com outros países , outras abordando questões pequenas - pedidos de funcionários, reclamações, notícias de jornal. Pouco mais de 20 estão escritas na caligrafia de Jânio; a maioria é formada por cópias dos memorandos, batidas à máquina.
"Usar bilhetes não era exclusividade de Jânio, Getúlio Vargas também fazia isso", explica a pesquisadora Maria Celina D"Araújo, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). "A novidade era que a mídia ficava correndo atrás (dos bilhetes). Jânio descobriu isso. E a mídia começava a tratar a política de outra forma, como um produto a ser vendido, feito por celebridades."
Aparentemente, as mensagens, muitas vezes, não respeitavam os trâmites usuais - o presidente se dirigia diretamente a uma autarquia, por exemplo, sem passar pelo ministro. Uma delas sem data, era dirigida ao Instituto Brasileiro do Café (IBC). "Excelência. 1. Rever a norma que manda distribuir somente às torrefações o café do IBC destinado aos municípios do Pará. Estou seguramente informado de que são as torrefações que desviam o café em grão para o contrabando e o mercado negro, onde alcança o preço de até Cr$ 10.000,00 o saco. O povo paga o quilo a Cr$ 400,00. (...)
Os assuntos dos bilhetes eram os mais diferentes. Um determinava que o ministro do Trabalho, Francisco Castro Neves, enviasse uma equipe de fiscais do ministério e do Instituto de Previdência e Assistência dos Industriários (IAPI) a Caraguatatuba (SP). O objetivo seria checar "denúncia idônea" de violação de leis trabalhistas". "2. Quero informações precisas e notícia das providências adotadas", determina o presidente, que arremata: "3.Prazo de dez dias." Outro ordenava ao ministro da Educação, Brígido Tinoco, a nomeação do crítico José Roberto Teixeira Leite como diretor do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), "para renová-lo e dinamizá-lo.