alguem faz uma redacça sobre o filme a mumia falando sobre suas maldades com os humanos
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Resposta:
As últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX ficaram marcadas pelas descobertas científicas e geográficas feitas ao redor do Mundo. O período é comumente relacionado à opulência intelectual oriunda da coragem de desbravadores que enfrentaram desafios inimagináveis nos mais diversos campos do conhecimento humano. No entanto, sob outra perspectiva, o período também originou um temor de que muitas dessas descobertas poderiam dar ao Homem um sentimento de prepotência, além de gerar consequências impossíveis de serem previstas. É no meio dessa ambiguidade que muitos dos monstros da Universal ganharam destaque, com uma menção especial para aquele que protagoniza A Múmia.
Desdobrando um argumento inicial concebido pelos históricos Richard Schayer e Nina Wilcox Putnam, o roteiro de John L. Balderston gira em torno da descoberta de uma caixa misteriosa e um corpo embalsamado feita por um grupo de arqueólogos britânicos nos desertos egípcios. Porém, a trama começa a se desenrolar somente onze anos depois, quando um outro grupo de arqueólogos recebe a visita de Ardath Bay (Boris Karloff, perfeito no andar pausado e na inexpressividade facial), um nativo que afirma saber onde se encontra a tumba de Ankh-Es-En-Amon (Zita Johann), a amante do homem que fora encontrado onze anos antes.
De acordo com a descrição da trama, a impressão que se tem é a de que o filme é uma história de suspense ou terror. Mas seria um erro pensar dessa maneira, pois, acima de tudo, A Múmia versa sobre os limites da curiosidade humana. Afinal de contas, no nosso afã por conhecimento, terminamos por trilhar caminhos desconhecidos onde não existe garantia de que o inexplorado é intrinsecamente bom. No meio do caminho, podemos despertar forças malignas ou naturalmente destrutivas cujos poderes são incontroláveis. Tendo em mente alguns eventos históricos, quem há de afirmar que todos os mistérios do universo estão esperando por nós para serem pacificamente descobertos?
Sublinhada ao longo de toda a narrativa, essa arrogância do Homem é contundentemente exemplificada logo na primeira cena. Como os minutos iniciais são dedicados ao despertar do monstro, os três personagem mostrados no começo – com a exceção da Múmia, é claro – não foram concebidos como pessoas e sim como conceitos. É difícil não enxergar no jovem que abre a caixa misteriosa uma representação da curiosidade humana, com a sua intempestividade e inconsequência; na figura do arqueólogo mais velho, a curiosidade científica; e, por fim, na imagem do sujeito supersticioso, a cautela daquele que estudou os segredos metafísicos do Universo. O fato de esses personagens desaparecem posteriormente da narrativa confirma ainda mais essa interpretação.
Entretanto, não é só de comentários ácidos sobre o orgulho humano que a narrativa de A Múmia se alimenta. Curiosamente, o filme também é sobre Amor, ou mais precisamente, sobre a história de um sujeito que, impedido pela morte de consumar o seu sentimento, espera 3700 anos para rever a sua amada. Uma espécie de Romeu e Julieta do mundo dos mortos, a trama surpreendentemente comovente extrapola até mesmo a concepção amorosa de Shakespeare. Para o bardo inglês, a morte de ambos os seus personagens era uma maneira de uni-los pelo laço da finitude. No roteiro de Balderston, nem mesmo a mortalidade é capaz de juntar os amantes. Para que isso aconteça, é preciso esperar o decorrer de milênios e a existência de uma dimensão espiritual onde o coração continue a bater.
Do ponto de vista técnico, é essa história de amor que possibilita ao magistral e injustamente esquecido Karl Freund (um gigante do Expressionismo Alemão), juntamente com o talentoso montador Milton Carruth, compor os momentos mais bonitos do filme. O primeiro deles acontece na primeira metade da história, quando, através de uma transição complexa e condizente com a narrativa, a câmera, que estava focando o rosto do sarcófago de Ankh-Es-En-Amon, faz um movimento lateral e encontra a face da heroína romântica, a intrépida Helen Grosvenor (também interpretada por Zita Johann). O segundo, ainda mais impressionante, surge no terceiro ato e consiste em uma sequência de imagens que narram a história da Múmia. Aqui, o que mais chama atenção é a composição muito similar às do cinema mudo, com uma leve manipulação do frame rate e a introdução de uma trilha grandiloquente. Vale lembrar que o longa foi lançado três anos depois do advento do som nos filmes. Ou seja, esse instante é tanto um retorno ao passado do protagonista quanto ao do próprio Cinema.
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