alguém faz uma crônica para mim, no mínimo 25 linhas
Soluções para a tarefa
Resposta:
Duelo.
Gosto de caminhar no meio da multidão. Num cruzamento da avenida Paulista, a uma hora da tarde, me sinto uma anônima protegida como um peixe pelo cardume. Nada me faz diferente, sou só mais uma, sem religião, classe social ou raça. Tenho uma sensação completamente diferente de quando, andando por uma calçada deserta do bairro, vejo vindo na esquina oposta um outro pedestre.
Se entre a multidão me misturo, tranquila, diante dessa presença que se aproxima, lento, me destaco, aflita. Agora sou apenas eu, ele é Outro, com maiúscula, é todo mundo, é o próprio Big Brother ( o do livro, não o programa), espelho-janela das salas de interrogatório da policia. O que pensaram de mim esse par de olhos estranhos? Qual juízo fará de meus passos, das minhas roupas, da minha expressão - ainda mais agora que tropeço em meio a essas dúvidas? Subitamente, os braços me dobram, as mãos quase roçam o chão, me transformando numa perfeita interpretação das orelhas baixas de um Beagle.
Questão prática: Encaro o ser que vem em minha direção ou ignoro por completo a sua presença? Não, ignorar seria suspeito (de quê, meu Deus?) Encaro o cidadão, na esperança de encontrar alguém muito diferente de mim: Um estudante apressado, um senhor de bengala, ou, quem sabe, para a sorte de minha vida amorosa, um amor de infância. Queria isso para que não houvesse semelhança entre nossos mundos e convívios sociais, evitando assim a disputa e o julgamento. Ainda bem que, quando levantei os olhos, percebo que se tratava do seu Wilson, dono da banca milenar na rua de baixo. Nos cumprimentamos num maneio de cabeça cordial, como uma zebra e um flamingo que nada têm em comum, mas bebem a mesma água de um mesmo laguinho na savana.