Além da Imprensa Régia, que outras mudanças ocorreram no Rio de Janeiro?
Soluções para a tarefa
Resposta:A cidade do Rio foi palco de grandes transformações urbanísticas. Por ser a capital federal, ela desempenhou um papel fundamental no período trabalhado, o que justifica um estudo mais cuidadoso dessas mudanças das quais ela sofreu. Tentarei analisá-las através de algumas categorias, mas ciente de que elas não ocorrem separadamente, e sim nas suas inter-relações. Devido à brevidade do texto, tentarei ser o mais sucinto possível. O livro que me serviu de base teórica foi Os bestializados, de José Murilo de Carvalho.
A primeira categoria a ser analisada é a populacional. O número de habitantes, a composição étnica e a estrutura ocupacional alteraram-se profundamente. As causas dessas mudanças seriam a abolição, a intensa imigração estrangeira (principalmente portuguesa) e mesmo de outras regiões do estado do Rio (especialmente ex-escravos da zona cafeeira) e do Brasil. Tudo isso provocou muitos desdobramentos: um desequilíbrio entre os sexos – “em 1890, entre os estrangeiros, os homens eram mais que o dobro das mulheres” (p.17) –; o acúmulo de subempregados e desempregados, que “viviam nas tênues fronteiras entre a legalidade e a ilegalidade, às vezes participando simultaneamente de ambas” (p.17), e que eram as chamadas “classes perigosas”, ou seja, os ladrões, prostitutas, malandros, capoeiras, etc.; por fim, um forte impacto sobre as condições de vida, tanto no que se refere às habitações, quanto ao saneamento básico (o que ocasionou um grande surto de epidemias na cidade).
Um segundo tipo de mudança ocorreu no plano econômico e financeiro. O autor aponta a abolição como a principal causa: o governo imperial (seguido pelo provisório) emitiu muito dinheiro sem lastro, no intuito de acalmar os cafeicultores e de “atender a uma demanda real de moeda para o pagamento de salários” (p.19). Essa política do Encilhamento trouxe então uma grande febre especulativa – “por dois anos, o novo regime pareceu uma autêntica república de banqueiros, onde a lei era enriquecer a todo custo com dinheiro de especulação” (p.20). Seguiu-se então um encarecimento dos produtos importados, devido ao aumento da demanda; inflação generalizada; queda do câmbio; e um enorme aumento do custo de vida, “(…) agravado pela imigração, que ampliava a oferta de mão-de-obra e acirrava a disputa pelos escassos empregos disponíveis” (p.21). Esse estado de coisas deu impulso ao jacobinismo, que pregava, entre outros, a xenofobia contra os estrangeiros, notadamente os portugueses (pois controlavam algumas atividades econômicas como o comércio e as casas de aluguel).
“Foi a política outro aspecto, e talvez o mais saliente, das transformações e abalos sofridos pela capital federal” (p.21). Os primeiros anos da República foram sem dúvida os mais conturbados, uma vez que a proclamação trouxe grandes expectativas de renovação e maior participação política. A experiência dos militares no poder, fato inédito desde o início da regência, fez com que eles se julgassem “donos e salvadores da República” (p.22) e fossem freqüentemente protagonistas de rebeliões e motins. Uma parte dos operários, acreditando “nas promessas do novo regime, tentaram organizar-se em partidos, promoveram greves, (…)” (p.23). Houve uma greve dos funcionários da rede ferroviária e do porto, paralisando toda a cidade. Os clubes jacobinos foram organizados, no bojo da xenofobia florianista. Estes últimos foram responsáveis por uma tensão política constante: “quebravam jornais, promoviam arruaças, vaiavam congressistas, espancavam e matavam portugueses, perseguiam monarquistas, assassinavam inimigos” (p.23). Até planejaram a morte de Prudente de Morais, no que foi mal-sucedido. Os capoeiras e os anarquistas tiveram desde cedo sua participação política comprimida pela República.
Outro tipo de mudança apontado por José Murilo de Carvalho é aquele que se deu no mundo das idéias e das mentalidades. Houve uma expansão de algumas ideologias importadas da Europa para além da corte imperial. O autor relembra a expressão “porre de idéias”, de Evaristo de Moraes, para caracterizar as várias combinações (sem preocupações lógicas) que se faziam com as vertentes do pensamento europeu, as quais corriam pela população sem nenhum controle e geravam muita confusão. Vale lembrar também que os intelectuais brasileiros, desde a proclamação, mudaram de atitude em relação à política, pois se no início eles se mostravam animados com o novo regime, depois do governo Floriano “não seria tão fácil estabelecer os parâmetros de uma convivência pacífica entre a República da política e a República das letras”.
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Explicação: