Português, perguntado por izabellef672, 5 meses atrás

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Versos Íntimos

Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera Somente a Ingratidão - esta pantera Fol tua companheira inseparávell

Acostuma-te à lama que te esperal O Homem, que nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo Acende teu cigarrol

O bejo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja

Se a alguém causa inda pena a tua chaga

Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beijal

ANJOS, Augusto dos (1884/1914) Eu e Outras Poesias. Apresentação Sanzio de Azevedo. Rio-São Paulo - Fortaleza ABC Editora, 2003.

Atividade 1

O eu poético e o autor: diferenças que os demarcam. Estabeleça as diferenças que demarcam o eu-poético e o autor. De exemplos.​

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Versos Íntimos é dos poemas mais celebrados de autoria de Augusto dos Anjos. Os versos expressam um sentimento de pessimismo e decepção em relação aos relacionamentos interpessoais.

O soneto foi escrito em 1912 e publicado no mesmo ano no único livro lançado pelo autor. Intitulado Eu, a obra foi editada quando Augusto dos Anjos tinha 28 anos.

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de sua última quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

Análise e interpretação do poema Versos Íntimos

Este poema transmite uma visão pessimista da vida. A linguagem usada pelo autor pode ser considerada uma crítica ao parnasianismo, um movimento literário conhecido pela linguagem erudita e romantismo exacerbado.

Esta obra revela também a dualidade na vida do ser humano, indicando como tudo pode mudar, ou seja, as coisas boas podem se transformar rapidamente em coisas más.

Existe também um contraste entre o título e a realidade revelada pelo poeta, pois o título "versos íntimos" pode remeter para o romantismo, algo que não se verifica no conteúdo do poema.

Em seguida revelamos uma possível interpretação de cada estrofe:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de sua última quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!

É mencionado o enterro da última quimera que neste caso indica o fim da esperança ou do último sonho. É transmitida a ideia que ninguém se importa com os sonhos destruídos dos outros porque as pessoas são ingratas como animais selvagens (neste caso uma feroz pantera).

Acostuma-te à lama que te espera!

O homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

O autor utiliza o imperativo dando o conselho que quanto mais cedo a pessoa se acostumar com a cruel e miserável realidade do mundo, será mais fácil. O Homem voltará à lama, regressará ao pó, está destinado a cair e a se sujar na lama.

Ele afirma que o Homem vive no meio de feras, de pessoas sem escrúpulos, más, sem compaixão e que por isso, ele também tem que se adaptar e ser também uma fera para viver neste mundo. Esta estrofe está de acordo com a famosa frase "O homem é o lobo do homem".

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

O poeta utiliza uma linguagem coloquial, convida o "amigo" (para quem escreveu o poema) a se preparar para traições, para a falta de consideração do próximo.

Mesmo quando temos demonstrações de amizade e de carinho como um beijo, isso é apenas o prenúncio de algo mau. Aquele que hoje é teu amigo e te ajuda, amanhã te abandonará e causará dor. A boca que beija é aquela que irá cuspir em seguida, causando dor e desilusão.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

O autor faz a sugestão de "cortar o mal pela raiz", para evitar o sofrimento no futuro. Para isso, ele deve cuspir na boca de quem o beija e apedrejar a mão que o acaricia. Isso porque, de acordo com o poeta, mais cedo ou mais tarde, as pessoas irão nos desiludir e machucar.

Estrutura do poema Versos Íntimos

Esta obra poética é classificada como um soneto, possuindo quatro estrofes - dois quartetos (4 verso cada) e dois tercetos (três versos cada).

Quanto à escansão do poema, os versos são decassílabos com rimas regulares. No soneto Augusto dos Anjos se apropria do estilo de soneto francês (ABBA/BAAB/CCD/EED), conheça abaixo a organização das rimas:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável(A)

Enterro de tua última quimera.(B)

Somente a Ingratidão — esta pantera -(B)

Foi tua companheira inseparável!(A)

Acostuma-te à lama que te espera!(B)

O Homem, que, nesta terra miserável,(A)

Mora, entre feras, sente inevitável(A)

Necessidade de também ser fera.(B)

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!(C)

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,(C)

A mão que afaga é a mesma que apedreja.(D)

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,(E)

Apedreja essa mão vil que te afaga,(E)

Escarra nessa boca que te beija!(D)

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