A volta da esperança
Ao contrário do que se pensa nas grandes cidades, os
índices de violência estão caindo, graças à demografia e
ao desenvolvimento do País.
Com a atuação da Seleção de Mano Menezes em sua
estreia, você pode imaginar que esta coluna se refere às
nossas chances de ganhar a Copa de 2014. Não é o caso.
O assunto é bem mais sério: a criminalidade vem
despencando em alguns locais do País. Não, você não leu
errado. Efetivamente, nos últimos dez anos, em algumas
cidades e Estados importantes, a violência vem
diminuindo, ao contrário de nossa percepção, fortemente
influenciada por algumas manchetes bombásticas, como
a do caso do goleiro Bruno.
Você deve estar pensando que apenas desistimos de dar queixa
de roubos e furtos, pois nossas esperanças de reaver o bem
roubado são menores do que a popularidade do Dunga. No
entanto, nos últimos anos, nenhum outro indicador de
violência mostrou queda mais marcante do que o número de
assassinatos. A menos que não estejamos registrando nem os
mortos...
Talvez um dos locais onde este fenômeno – não me refiro ao
craque gorducho do Corinthians – seja mais marcante é a maior
cidade do País, São Paulo. Em junho, a taxa de homicídios por
100 mil habitantes caiu abaixo de nove, 18% menos do que um
ano antes. Em relação aos mais de 64 mortos em cada 100 mil
paulistanos no ano de 1999, a queda foi de mais de 85%. Há
dez anos, um habitante de São Paulo tinha 600% mais chance
de ser assassinado do que um de Nova York. Hoje, a
probabilidade é menos de 50% superior à americana.
Em todo o Estado de São Paulo, a taxa de assassinatos
também ficou abaixo de nove por 100 mil habitantes, 70%
inferior aos níveis de 1999, poupando 48.674 vidas desde
então. No caso das mulheres, a violência caiu a níveis
menores ainda. Em mais da metade dos cerca de 2.400
municípios brasileiros nenhuma mulher foi assassinada nos
últimos cinco anos. Por que a redução dos homicídios? Há
razões específicas, como a melhoria do aparelhamento
policial, o fechamento de bares e a proibição da venda de
bebidas em determinados horários. Há também razões
econômicas e demográficas. O bom desempenho e a forte
geração de empregos têm reduzido a oferta de “mão de
obra” para a criminalidade. Nos últimos dez anos, o número
de empregos com carteira assinada no Brasil aumentou em
mais de 11 milhões. Mais trabalho, menos crime.
O Norte, o Nordeste, o Centro-Oeste e o interior vêm
crescendo mais do que o restante do País por causa dos
programas de governo e do desempenho excepcional do
agronegócio. Com isso, o fluxo migratório inverteu-se. Os
grandes centros urbanos do Sul e do Sudeste começaram a
desinchar e a violência a cair, ainda que às vezes sendo
exportada para outros lugares.
Finalmente, em virtude da queda da taxa de natalidade, a
parcela da população entre 15 e 25 anos – as maiores vítimas
e algozes da violência – começou a se reduzir. Esta foi a
principal razão da queda dos assassinatos nos Estados
Unidos e na Europa nas duas últimas décadas. No Brasil,
onde a taxa de natalidade demorou mais a cair, o impacto
levou uma década a mais para chegar, mas chegou.
Com a demografia e a economia jogando a favor, é provável
que a violência continue em queda. Pode respirar aliviado. A
chance de, em 2014, você comemorar o título do time de
Neymar e companhia é bem maior do que de ser
assassinado. (Revista ISTOÉ, 25/8/2010)
Após a leitura, responda às questões abaixo:
1. Qual é a posição do autor sobre o assunto principal do
texto?
2. Que tipo de estratégia argumentativa ele utiliza?
3. A linguagem do texto é forma ou informal? Justifique.
ME AJUDEM PELO AMOR DE DEUS -
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