a tecnologia digital na dança contribui para o intitulado ''Ghostcatching'' como isso ocorreu?
Soluções para a tarefa
Resposta:
Bailarinas clássicas passam horas e horas tentando fazer maravilhas, a maior parte do tempo na ponta dos pés. Não à toa, têm joanetes e precisam de muito alongamento para aguentar a rotina de exercícios em cima dos dedos. O sonho de dançar flutuando, porém, foi alcançado pelos bailarinos contemporâneos, com uma mãozinha da tecnologia. Câmeras, projeções, edições de vídeo e uma série de outras parafernálias permitem que a platéia assista ao espetáculo a partir dos mais diversos ângulos de visão, até mesmo de lugares bem distantes.
Essa história começa, é claro, com a invenção da lâmpada elétrica, no fim do século 19. O grande produto de Thomas Edison sequer havia se tornado popular e um grupo de artistas tratou de fazer experiências de iluminação. A norte-americana Lo;e Fuller foi uma das pioneiras nessa tarefa. ;Até então, a luz utilizada na arte era de querosene. Ela foi a primeira a perceber que a luz elétrica poderia ser usada para criar um efeito visual;, explica a coreógrafa Ivani Santana, professora da Universidade Federal da Bahia.
Lo;e projetou luzes coloridas em tecidos brancos e criou o que ficou conhecido como serpentine dance. ;Isso nada mais era do que a iluminação refletida em longos pedaços de seda. Mas essa foi a primeira vez que o recurso foi usado não para iluminar um ambiente, e sim para criar uma nova poética;, ressalta Ivani, que pesquisa técnicas de dança com mediação tecnológica desde 1990. Depois de Lo;e, as iniciativas ocorreram de forma isolada até a década de 1960, quando ocorreu o primeiro manifesto sobre a interação entre artistas e equipamentos eletrônicos (veja arte).
Nesse meio tempo, no entanto, o teremim ; instrumento musical que inaugurou a era da música eletrônica ; também acabou ;entrando na dança;. O inventor do aparelho, o russo Lev Sergeivitch Termen (conhecido pelo nome francês Léon Theremin), realizou uma experiência com bailarinos em uma plataforma, que batizou de terpsitone. O dançarino se movimentava em cima de uma placa de metal de 7 metros e o aparelho transformava os passos em música. Apesar de grandioso, o invento não era lá muito resistente: dos três exemplares construídos por Theremin, apenas o que o engenheiro fez para sua sobrinha em 1978 sobrevive até hoje.
As maiores inovações na arte de movimentar o corpo começaram a aparecer na década de 1960, sob o comando do coreógrafo estadunidense Merce Cunningham. Merce, que faleceu em 2009, se uniu a outro vanguardista, o músico John Cage, e desenvolveu uma série de experiências em que dança e música interagiam de formas inusitadas. ;Com essa dupla, a cena passou a ser o local de encontro para essas artes. Muitas vezes, o bailarino não sabia qual música iria dançar e o compositor não tinha ideia sobre a coreografia que iria encontrar;, explica a professora Sílvia Geraldi, da Universidade Anhembi-Morumbi.
Se isso parece um pouco maluco, imagine o que dizer de uma coreografia montada através de um programa de computador. A ideia também foi de Merce Cunningham, que, a partir de 1991, lançou mão do software LifeForms para criar suas montagens. O programa utiliza câmeras e sensores que captam os movimentos dos bailarinos. O computador, então, processa a informação e ajuda o coreógrafo a ter uma visão de como ficará a composição do espetáculo, apresentando possibilidades para braços, pernas, cabeças, entradas e saídas de cena.
A bailarina Fabiana Gugli estudou durante 10 anos no estúdio de Cunningham em Nova York e assistiu a palestras em que o coreógrafo explicou como funcionava o processo de criação com a máquina. ;Ele trabalhava com uma noção de corpo humano totalmente fragmentado. Não era como na dança clássica, os bailarinos dele tinham sempre um desafio. O braço era independente da cabeça, que era independente do resto do corpo. Às vezes, o software dava soluções de composição que não eram humanas;, conta Fabiana.
A professora Ivani Santana afirma que o LifeForms permite a criação de uma coreografia mais orgânica, porque o idealizador pode testar o resultado várias vezes. ;Filmes que dependem de animação, como Titanic e Avatar, utilizam sistemas parecidos com esse. Os autores querem dar um efeito mais próximo possível do real;, diz. Merce Cunningham também foi um dos primeiros bailarinos a usar filmadoras no palco para ir além do registro do espetáculo