A seguir, leia o fragmento do Capítulo III da obra O alienista, de Machado de Assis:
[...] Um dia, ao jantar, como lhe perguntasse o marido o que é que tinha, respondeu
tristemente que nada; depois atreveu-se um pouco, e foi ao ponto de dizer que se considerava tão
viúva como dantes. E acrescentou:
—Quem diria nunca que meia dúzia de lunáticos...
Não acabou a frase; ou antes, acabou-a levantando os olhos ao teto, —os olhos, que eram a
sua feição mais insinuante, — negros, grandes, lavados de uma luz úmida, como os da aurora.
Quanto ao gesto, era o mesmo que empregara no dia em que Simão Bacamarte a pediu em
casamento. Não dizem as crônicas se D. Evarista brandiu aquela arma com o perverso intuito de
degolar de uma vez a ciência, ou, pelo menos, decepar-lhe as mãos; mas a conjetura é verossímil.
Em todo caso, o alienista não lhe atribuiu intenção. E não se irritou o grande homem, não ficou sequer
consternado. O metal de seus olhos não deixou de ser o mesmo metal, duro, liso, eterno, nem a
menor prega veio quebrar a superfície da fronte quieta como a água de Botafogo. Talvez um sorriso
lhe descerrou os lábios, por entre os quais filtrou esta palavra macia como o óleo do Cântico:
—Consinto que vás dar um passeio ao Rio de Janeiro[...].
De acordo com o fragmento lido, qual a possível situação descrita?
Qual o significado da expressão “meia dúzia de lunáticos”?
Qual o efeito de sentido dos travessões presentes no trecho?
Soluções para a tarefa
a. A possível situação descrita é a do marasmo sentido pela esposa diante da reação de ambos, provavelmente o sentimento de rotina e de desesperança após muitos anos de casamento.
b. O significado da expressão “meia dúzia de lunáticos” é num sentido discriminativo; tal como "meia dúzia de pessoas quaisquer", "meros", "reles", ou seja; se está subestimando as pessoas na frase.
c. O efeito de sentido dos travessões presentes no trecho basicamente é de dar ênfase à fala.
1. A possível situação descrita é uma discussão entre o casal Simão Bacamarte e Dona Evarista. Pelas falas, podemos perceber que Dona Evarista sente-se abandonada (chega a falar que sente-se viúva, como antes de se casar com Bacamarte). Ela tenta iniciar um diálogo para buscar uma solução, mas desiste ao ver que o marido não reagiria com o interesse que ela esperava.
2. No contexto apresentado, a expressão "meia dúzia de lunáticos" foi a forma usada por Dona Evarista para se referir aos pacientes de Simão Bacamarte. Bacamarte era um médico que tentava ajudar as pessoas com distúrbios psicológicos na sociedade. Como estes pacientes que tomavam o tempo do médico, o afastando de sua esposa, apresentavam algumas dificuldades psicológicas, Evarista se refere a eles como "lunáticos".
3. Os travessões são usados para expressar a fala exata do personagem. De forma indireta, sem o uso dos travessões, o narrador expõe algumas das falas com as suas próprias palavras, como no trecho:
"(...) como lhe perguntasse o marido o que é que tinha, respondeu tristemente que nada; depois atreveu-se um pouco, e foi ao ponto de dizer que se considerava tão viúva como dantes."
Porém, as falas exatas - palavra por palavra - são antecipadas pelo travessão.
O trecho faz parte da obra O alienista, de Machado de Assis, uma obra com tom humorístico que não perde o encanto com o passar do tempo.
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