A respeito do pensamento de Newton e de sua mecânica, qual a relação com o pensamento e a mecânica de Kepler e Copérnico?
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Soluções para a tarefa
Um exemplo da ambigüidade em que viviam esses homens é a história de um dos fundadores da astronomia contemporânea, o alemão Johannes Kepler. Por volta de 1600, ele introduziu os preceitos que os astrônomos ainda seguem hoje em dia ao observar, durante meses a órbita de Marte. A partir daí, tirou uma conclusão – a de que a órbita dos planetas não era um círculo, como se pensava desde a Antiguidade, mas uma elipse. A marca da ciência, como hoje se sabe, era o rigor dos dados coletados por Kepler e a clareza com que os apresentou, permitindo que qualquer um refizesse as observações para checá-las.
os fundadores da ciência tiveram de aprender à medida que avançavam e, a cada momento, tinham dúvidas, oscilando entre as diversas formas de conhecer o mundo. O próprio Kepler, nas horas vagas, fazia previsões astrológicas para aumentar seu salário de matemático, e várias das suas teses tinham muito a ver com as idéias herméticas do filósofo grego Pitágoras, para quem a realidade que vemos não era o mundo verdadeiro. A realidade autêntica, segundo Pitágoras, eram os números puros e as relações entre eles – assim, quem pensa que está ouvindo uma melodia, está apenas reconhecendo, mentalmente, as relações numéricas, abstratas entre as notas – que, no fundo, seriam inaudíveis, só uma “ilusão” dos ouvidos (uma espécie de Matrix matemática).
Kepler gastou um bom tempo tentando desvelar a harmonia oculta no movimento dos planetas, que os pitagóricos supunham formar um círculo perfeito. Mas acabou convencido de que estaria mais próximo da verdade se aceitasse a realidade que suas medidas lhe indicavam, mesmo que fosse a realidade “imperfeita” de uma elipse.
A mesma ambigüidade marcou a vida do alquimista alemão Philipp von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso. Ele era um defensor radical da magia como “a sabedoria secreta”, dizendo que a razão não passava de “uma loucura pública”. Achava que as coisas inanimadas tinham espírito e estava convencido de que os astros exerciam influência direta sobre a saúde das pessoas.
Nada disso é compatível com o método científico. Mas Paracelso também fez observações cuidadosas do corpo humano e corrigiu diversos erros cometidos por Galeno, um dos grandes médicos da Antiguidade. Além disso, foi um pioneiro no estudo da química médica e desenvolveu o conhecimento sobre diversas substâncias importantes, como o enxofre e o mercúrio.
Paracelso nunca defendeu o método científico e não é reconhecido como um pai da ciência. Mas hoje já se admite que seu trabalho contribuiu para o avanço da pesquisa médica. Segundo o historiador italiano Paolo Rossi, um dos maiores especialistas no estudo da origem da ciência, Paracelso “destruiu a medicina de Galeno e transformou a prática médica e o ensino universitário”. Tudo isso no bom sentido, eliminando concepções ultrapassadas e abrindo novas possibilidades de pesquisa.
Do ponto de vista científico, não teve papel inferior ao do alquimista belga Jean-Baptiste van Helmont, que também seguia idéias similares às de Paracelso e foi perseguido pela Igreja. Diversas vezes foi preso e teve de abjurar suas descobertas. Em 1642, publicou o livro Ortus Medicinae, que teve repercussão extraordinária sobre o estudo dos gases. Van Helmont foi um dos primeiros a ressaltar a importância do gás carbônico no corpo humano, especialmente na respiração. Também demonstrou que a digestão não é só uma trituração mecânica da comida, mas uma decomposição química por meio de ácidos.