Geografia, perguntado por anicetoadam09, 9 meses atrás

A previsão dos sismos seria um aspecto muito importante. Cientistas diariamente estudam métodos para tal. Contudo não tem sido fácil devido a própria natureza interna. comentem o porque.

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Respondido por monizraimundo
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Resposta:

O fenómeno sísmico, para além do interesse científico que desperta, é uma manifestação de processos geológicos com grandes repercussões sociais. O cidadão comum que ignora a existência de uma escala de durezas minerais de Mohs já ouviu mencionar confusamente escalas de Richter ou Mercalli e discute à mesa do café o sismo de grau oito que houve ontem na China. E é natural que isto aconteça pois um sismo é a mais temida catástrofe natural por dois motivos: pelo grau de destruição que provoca nos bens e vidas humanas, e pela sua imprevisibilidade. Será assim? Afinal, com a sismologia nasceu a esperança de um dia poder, se não controlar, pelo menos prever a ocorrência de sismos.

Explicação:

Dois grandes grupos de métodos têm sido seguidos para abordar o problema da previsão sísmica: métodos físicos e métodos numéricos.

Os métodos físicos pressupõem que o objectivo da previsão só poderá ser atingido pelo conhecimento profundo dos mecanismos físicos de desencadeamento de sismos. Identificaram-se, assim, vários processos que, na sua maioria, são sinais da acumulação de tensões que precede um sismo de forte magnitude. Nestes métodos inclui-se a análise das variações das velocidades das ondas sísmicas, da resistividade eléctrica da crosta, da sua inclinação, da libertação de gases raros, do nível da água em poços profundos, dos campos magnético e gravítico da Terra.

Os métodos numéricos pressupõem que uma sequência temporal de ocorrências sísmicas já contém em si informação suficiente para permitir a identificação de períodos ou padrões de recorrência. Saudavelmente, não há unanimidade entre as pessoas que tentam aplicar métodos matemáticos à previsão sísmica. Umas entendem que o processo sísmico não tem memória; os sismos seriam, então, independentes, pelo que a sua previsão só poderia realizar-se por métodos estatísticos. Outro grupo, no qual me incluo, entende que essa memória existe, ou seja, que a sismicidade é um processo de aspecto aleatório, mas determinístico - um processo caótico.

O grande problema com os processos caóticos é que mesmo se conhecermos as leis que os regem não podemos usá-las para fazer previsões a longo prazo que sejam mais exactas que as previsões estatísticas. Mas os processos caóticos têm outras propriedades interessantes. Uma delas é a sincronicidade: em certas condições podemos criar modelos que têm comportamento paralelo do processo caótico que estudamos, mesmo sem conhecer completamente as leis que o regem. Os pêndulos são bons exemplos de processos periódicos. Se acoplarmos dois pêndulos de períodos (comprimentos) diferentes, por exemplo unindo as suas massas com uma mola, temos um oscilador caótico, que não é periódico. Pode-se obrigar dois desses osciladores a moverem-se em sincronia de tal maneira que observando a evolução de um deles conhecemos a evolução do outro.

É um método desse tipo que tenho vindo a desenvolver, como parte do trabalho do grupo que, no Dep. Ciências da Terra da Universidade de Coimbra, se dedica à previsão sísmica. Não usamos pêndulos físicos. O modelo que aplicamos é puramente matemático: uma rede neuronal.

As redes neuronais começaram por ser modelos matemáticos do funcionamento do sistema nervoso central e, gradualmente, revelaram-se úteis na modelação preditiva de outros processos caóticos, como as variações dos mercados financeiros ou o clima. Isto, aparentemente, não tem qualquer relação com o processo sísmico. Só aparentemente. É que os processos caóticos têm outra propriedade interessante: são todos equivalentes, ou seja, um modelo de um processo caótico é modelo de todos os processos caóticos. Na verdade, todos os processos caóticos são modelos de todos os outros processos caóticos. Assim, ao sincronizar a rede neuronal com a sismicidade natural numa região, digamos, os Açores, a evolução da rede mostrar-nos-á a evolução da sismicidade: os próximos sismos.

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