A presidente Dilma ou a presidenta Dilma?
Essa é a pergunta que mais temos recebido nos últimos dias por e-mail, pelas redes sociais (Twitter e Facebook) e mesmo pessoalmente. Há uma explicação para isso (I): a eleição da primeira mulher à Presidência da República, Dilma Rousseff.
Já falamos deste assunto aqui (II), mas, diante do acontecimento do domingo 31 de outubro [de 2010] e da avalanche de perguntas, somos obrigados a retomá-lo. Gramaticalmente as duas formas estão corretas. Ou seja, pode ser “a presidente Dilma” e “a presidenta Dilma”. Neste momento, com base nas ocorrências na imprensa, inclusive no Jornal do Commercio, sem dúvida “a presidente” é a mais comum.
E, se olharmos para o passado da língua, é a mais lógica. Palavras que vieram do particípio presente do latim, normalmente terminadas em -ante, -ente e -inte, são invariáveis. O que identifica o gênero delas é o artigo ou outro determinante: o/a amante, o/a gerente, meu/minha presidente.
A língua, contudo, nem sempre é lógica. Muitas vezes ela foge do controle e revela uma face inventiva indiferente às regras. Isso ocorreu, por exemplo, com “comediante”, que ganhou o feminino “comedianta”; com “infante”, que ganhou “infanta”; com “parente”, que ganhou “parenta”; e com “presidente”, que ganhou “presidenta”. Certamente o extralinguístico atuou na formação desses femininos. A versão feminina de um nome de cargo destaca com mais força a presença da mulher na sociedade.
Os mais velhos devem se lembrar do que ocorreu com a indiana Indira Gandhi. Começaram chamando-a de “o primeiro-ministro Indira Gandhi”; depois, passaram para “a primeiro-ministro”; e terminaram em “a primeira-ministra”. E hoje alguém tem dúvida de que uma mulher é “primeira-ministra”?
A favor de “presidenta” existe também o aspecto legal. A Lei Federal 2 749/56 diz que o emprego oficial de nome designativo de cargo público deve, quanto ao gênero, se ajustar ao sexo do funcionário. Ou seja, segundo a lei, os cargos, “se forem genericamente variáveis”, devem assumir “feição masculina ou feminina”.
Por tudo isso (III), defendemos a adoção do feminino “a presidenta”. Apesar de neste momento a maioria, pelo que mostra a imprensa, preferir “a presidente”. Intuímos, porém, que ocorrerá no Brasil o mesmo (IV) que sucedeu com dois vizinhos nossos. Na Argentina, Cristina Kirchner começou sendo chamada de “la presidente” e hoje é “la presidenta”. O mesmo ocorreu com Michelle Bachelet, no Chile, que (V) terminou o mandato como “la presidenta”. O tempo dirá se nossa intuição estava certa.
LUTIBERGUE, Laércio. A presidente Dilma ou a presidenta Dilma? Jornal do Commercio, Recife, 10 nov. 2010.
Releia o texto e observe as palavras numeradas. Assinale a alternativa que aponta corretamente as relações coesivas estabelecidas por esses termos.
Soluções para a tarefa
Resposta: a presidenta Dilma
Explicação: porque o sujeito citado da frase é feminino e se refere a ela
Resposta:
Alternativa B
Explicação:
a) (F) O pronome demonstrativo isso remete ao que foi mencionado anteriormente, ou seja, relaciona-se com o grande afluxo de perguntas que o autor havia recebido.
b) (V)
c) (F) A expressão “tudo isso” faz referência ao que foi escrito até aquele momento, e não “ao longo do texto”, em cujo final o autor acrescenta ainda mais alguns dados.
d) (F) No contexto da ocorrência, o termo mesmo não é um pronome demonstrativo, e sim um substantivo que poderia ser substituído pela expressão “coisa semelhante”.
e) (F) O pronome relativo que refere-se a Michelle Bachelet (a qual terminou o mandato como la presidenta).