a obra de william shakespeare pode ser considerada antissemista ?
Soluções para a tarefa
Há bons anos, ao sair do cinema, encontrei um amigo no cinema: eu estava saindo de um filme de que nem consigo me lembrar, ele estava entrando com a namorada, judia, para ver a versão com Al Pacino e Jeremy Irons de O mercador de Veneza. Há muito tempo a peça é cercada de acusações de antissemitismo, e só estou contando esse detalhe do cinema porque a namorada do amigo, identificando-se com o judeu Shylock que é o “vilão” da peça, levantou-se no meio do cinema e começou a discursar contra a plateia de gentios que se divertia com o filme, enxergando nele mais um ovo da serpente.Acaso o leitor acredita que vou fazer uma defesa da dimensão estética da obra de arte a fim de, muito tardiamente, pedir calma à moça? Acalme-se um pouco o leitor…A discussão do antissemitismo em O mercador de Veneza sempre passa pelo famoso “contexto histórico”. Já cheguei a ler elaboradas especulações sobre Shakespeare ter conhecido algum judeu, que concluíam com a negativa, daí deduzindo que a peça não podia ser antissemita. Limito-me a pensar que eu mesmo acho que nunca conheci um terrorista, mas sou contra o terrorismo.Também existe a questão, mais ampla, do julgamento moral das obras de arte. Ainda não foi escrito sobre esse assunto um texto que pareça, se não definitivo, ao menos um bom resumo dos argumentos. Muito grosseiramente, podemos dizer que de um lado temos aqueles que apregoam uma autonomia da dimensão estética e que dizem que o julgamento moral da arte faz tanto sentido quanto o julgamento gastronômico da arquitetura. Creio que é muito fácil pensar assim até o momento em que você se depara com uma obra que provoca uma inequívoca repulsa moral. E não vale escapar com o argumento de que se algo é muito ruim, como uma obra específica de propaganda, não é arte; não é a qualidade que define se um ato é artístico.