Português, perguntado por eriklopesnascimento, 10 meses atrás

A natureza sempre foi a grande inspiradora da nossa poesia. Desde Bento Teixeira Pinto, no alvorecer da nacionalidade, até os árcades, no século XVII, os românticos, os parnasianos e os simbolistas, no século XIX, aos poetas contemporâneos, não é difícil perceber essa influência predominante. Não possuímos, como os gregos antigos, os latinos e os franceses da Idade Média, o calor, a imaginação atrevida, a grandiloquência e o sopro heroico imprescindível à musa épica. Preferimos à epopeia cantada a epopeia realizada. Quem, até agora, cantou a conquista da floresta amazônica pelo cearense, a imensidade silenciosa dos sertões, as lutas contra os usurpadores estrangeiros, o episódio formidável das bandeiras? Bilac, por exemplo, no Caçador de Esmeraldas, tão formoso e comovido, deu-nos apenas um fragmento da aventura sem par dos bandeirantes. Seu poemeto admirável não traduz inteiramente nem as condições mesológicas do cenário, nem a totalidade da ação moral dos homens que empreenderam o milagre do desbravamento do solo brasileiro.

É certo que, aos seus versos sobram sentimento e paixão, mas falta-lhes justamente a visão panorâmica, a largueza cíclica exigida pelo motivo. Bilac apreciou apenas uma face do heroísmo: a tenacidade ambiciosa. Viu unicamente um aspecto do ambiente: o pitoresco, a fantasia graciosa e delicada do meio físico. Sua poesia mostra-se aí principalmente descritiva. À semelhança de Bilac, todos os nossos poetas épicos desde Santa Rita Durão e Basílio da Gama até Magalhães e Porto Alegre, foram, sobretudo, descritivos. O Caramuru e O Uraguai revelam, antes do mais, o propósito de pintar, ou simplesmente enumerar as excelências da nossa terra, a sua exuberância, a sua opulência, a sua formosura. As batalhas, os recontros, os episódios gloriosos que ali são narrados, têm a natureza rápida, a instantaneidade passageira das guerrilhas, das emboscadas súbitas, dos assaltos inopinados. Vê-se que o interesse primordial dos autores estava mais na pura representação das coisas que nos estudos dos caracteres. O heroísmo desaparecia ante a maravilha dos painéis pintados. As florestas, as cachoeiras, os rios e as montanhas dominavam com as suas mil vozes misteriosas e as suas massas brutais a frágil criatura humana. Eis porque, até hoje, não temos propriamente um poema épico, senão alguns cantos heroicos, repassados de um sopro contínuo de lirismo, muito peculiar à nossa psique, e onde está, realmente, a nossa verdadeira índole poética.

(Ronald de Carvalho. In: O Espelho de Ariel, p. 227-228)

As seguintes teses são apresentadas no texto, exceto:

Escolha uma:
a. A descrição de belezas naturais é privilegiada na literatura brasileira.
b. Na descrição literária dos episódios históricos de heroísmo e bravura predomina a análise dos sentimentos humanos.
c. A literatura greco-romana e a literatura francesa medieval caracterizam-se pela presença de poesia épica.
d. A reação às invasões estrangeiras não é tema frequente na poesia nacional.
e. Os feitos heroicos brasileiros não estão devidamente registrados em obras literárias.

Soluções para a tarefa

Respondido por analauraquiche
4

Resposta:

Alternativa B*

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