Sociologia, perguntado por ismarkrn, 10 meses atrás

A narrativa abaixo tem como personagem central Totonha, que revela um pouco a sua visão de mundo


Totonha


Capim sabe ler? Escrever? Já viu cachorro letrado, científico? Já viu juízo de valor? Em quê? Não quero aprender, dispenso.


Deixa pra gente que é moço. Gente que tem ainda vontade de doutorar. De falar bonito. De salvar vida de pobre. O pobre só precisa ser pobre. E mais nada precisa. Deixa eu, aqui no meu canto. Na boca do fogão é que fico. Tô bem. Já viu fogo ir atrás de sílaba?


O governo me dê o dinheiro da feira. O dente o presidente. E o vale-doce e o vale-lingüiça. Quero ser bem ignorante. Aprender com o vento, ta me entendendo? Demente como um mosquito. Na bosta ali, da cabrita. Que ninguém respeita mais a bosta do que eu. A química.


Tem coisa mais bonita? A geografia do rio mesmo seco, mesmo esculhambado? O risco da poeira? O pó da água? Hein? O que eu vou fazer com essa cartilha? Número?


Só para o prefeito dizer que valeu a pena o esforço? Tem esforço mais esforço que o meu esforço? Todo dia, há tanto tempo, nesse esquecimento. Acordando com o sol. Tem melhor bê-á-bá? Assoletrar se a chuva vem? Se não vem?


Morrer, já sei. Comer, também. De vez em quando, ir atrás de preá, caruá. Roer osso de tatu. Adivinhar quando a coceira é só uma coceira, não uma doença. Tenha santa paciência!


Será que eu preciso mesmo garranchear meu nome? Desenhar só pra mocinha aí ficar contente? Dona professora, que valia tem o meu nome numa folha de papel, me diga honestamente. Coisa mais sem vida é um nome assim, sem gente. Quem está atrás do nome não conta?


No papel, sou menos ninguém do que aqui, no Vale do Jequitinhonha. Pelo menos aqui todo mundo me conhece. Grita, apelida. Vem me chamar de Totonha. Quase não mudo de roupa, quase não mudo de lugar. Sou sempre a mesma pessoa. Que voa.


Para mim, a melhor sabedoria é olhar na cara da pessoa. No focinho de quem for. Não tenho medo de linguagem superior. Deus que me ensinou. Só quero que me deixem sozinha. Eu e minha língua, sim, que só passarinho entende, entende?


Não preciso ler, moça. A mocinha que aprenda. O doutor. O presidente é que precisa saber o que assinou. Eu é que não vou baixar minha cabeça para escrever.


Ah, não vou.


(FREIRE, Marcelino. “Totonha” in. Contos Negreiros, pp. 79-81. Record, 2005)


Após leitura atenta do texto, conclui-se que a personagem Totonha vive em situação precária de vulnerabilidade e risco social, PORQUE ela:
A) não é assistida pelo poder público, não teve acesso regular à educação e não tem assistência à saúde; mal se alimenta e reside numa região onde água é recurso escasso.
B) recusa-se a aprender a escrever, a receber auxílios do poder público e resiste em entrar para os estatísticos sociais da pobreza, condição necessária para ser assistida em suas necessidades.
C) é idosa e não lhe sobra mais tempo para os estudos e, sendo bem ignorante, só lhe resta a boca do fogão para ficar.
D) reside numa região onde pouco chove, o rio é seco e quase não há animais para caçar e comer.
E) escolheu ficar sozinha, não se casou, vive na imundície da miséria e adquiriu hábitos intransigentes, próprios dos velhos ranzinzas.

Soluções para a tarefa

Respondido por ednalucasprof1412
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Resposta: Letra: C

Explicação: é idosa e não lhe sobra mais tempo para os estudos e, sendo bem ignorante, só lhe resta a boca do fogão para ficar.

Discordo que seja a letra: A, como havia visto em uma outra correção,

pois no paragrafo ela cita: que possui ajuda da governo que lhe dá o vale linguiça ......

Respondido por guilhermevieira14050
0

Resposta:

a resposta ta na letra c)

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