A música Coração materno (Caetano Veloso) fala sobre o quê? (não entendi a música, É para um trabalho)
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O canto de Caetano Veloso em Coração materno, segunda música do disco coletivo-manifesto Tropicália ou Panis et circencis, é sua primeira grande performance vocal. Além de pensar a arte na arte e compor canções (tendo, grosso modo, um domínio musical intuitivo e não estudado e um conhecimento literário estudado e não intuitivo), o artista possui uma das vozes mais habilidosas e afetivas em arrebatamento da nossa música. Apesar de sua face de letrista e compositor aqui não aparecer, a canção põe em jogo também, além do canto e por um gesto, a vertente artista-pensador do músico. O canto, aqui, é o de um jovem de 26 anos, vindo do interior da Bahia, que se pretende, de certo modo, mais moderno que os modernos. Um pouco arrogante já no começo, talvez. Sua voz chama atenção, aqui, por sua explícita audácia consciente, seu uso de referências da história do cancionário nacional para pautar um canto-verdade, sua variação de estados que colocam em jogo íntimo a relação entre emoção e música, conciliando inalterabilidade de convicção, neutralidade ou anestesia intelectual e arrebatamento emocional para cantar uma letra ridícula, aqui em uso vanguardístico.
Muito provavelmente esta proeza, no entanto e vista de perto, pode mostrar muito mais um enorme senso de oportunidade, aliado ao fato deste ser um espécimen de biografia favorável ao desconhecimento da amplitude dos interditos citadinos, em dado típico de quem vem da periferia da periferia da periferia (Santo Amaro, interior da Bahia, Bahia, interior do Brasil, Brasil, interior da civilização). Isto se opõe ao que seria ou poderia ser uma virtude excepcional, que proviria de um ser puramente superdotado — enquanto não supertreinado civilizatoriamente. Caetano cultivou seu amor ao pensamento, no entanto. E os signos estão aí, sobretudo. Estes favorecem o uso do termo “vanguardista” e não “modernista” ou “erudito” por conciliarem tantos contrários. Um exemplo: a canção se pretende uma versão, de um “original” datado, puramente repetição sem diferença. A diferença brota da quase absoluta contenção da inteligência em reabordar uma composição passada. É um outro modo em relação à consciência