A mãe do cativo
Ó Mãe! não despertes est'alma que dorme, Com o verbo sublime do Mártir da Cruz! O pobre que rola no abismo sem termo Pra qu'há de sondá-lo... Que morra sem luz. Não vês no futuro seu negro fadário, Ó cega divina que cegas de amor?! Ensina a teu filho - desonra, misérias, A vida nos crimes - a morte na dor. Que seja covarde... que marche encurvado... Que de homem se torne sombrio reptil. Nem core de pejo, nem trema de raiva Se a face lhe cortam com o látego vil. Arranca-o do leito... seu corpo habitue-se Ao frio das noites, aos raios do sol. Na vida - só cabe-lhe a tanga rasgada! Na morte - só cabe-lhe o roto lençol. Ensina-o que morda... mas pérfido oculte-se Bem como a serpente por baixo da chã Que impávido veja seus pais desonrados, Que veja sorrindo mancharem-lhe a irmã. Ensina-lhe as dores de um fero trabalho... Trabalho que pagam com pútrido pão. Depois que os amigos açoite no tronco... Depois que adormeça co'o sono de um cão. Criança - não trema dos transes de um mártir! Mancebo - não sonhe delírios de amor! Marido - que a esposa conduza sorrindo Ao leito devasso do próprio senhor! ... São estes os cantos que deves na terra Ao mísero escravo somente ensinar. Ó Mãe que balanças a rede selvagem Que ataste nos troncos do vasto palmar. CASTRO ALVES. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. v. 1, p. 265.
1) A literatura produzida por Castro Alves representou um momento de maturidade e transição da Literatura brasileira ao romper com o ideário ultrarromântico. Retratou o lado feio e obscuro da pátria, como a escravidão dos negros, bem como a opressão e a ignorância do povo brasileiro. Justifique essa afirmação com trechos do poema acima.
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