A maçã da consciência de si. — O labrador dourado saltando com a criança na grama; o balé acrobático do sagui; a liberdade alada da arara-azul cortando o céu sem nuvens — quem nunca sentiu inveja dos animais que não sabem para que vivem nem sabem que não o sabem? Inveja dos seres que não sentem continuamente a falta do que não existe; que não se exaurem e gemem sobre a sua condição; que não se deitam insones e choram pelos seus desacertos; que não se perdem nos labirintos da culpa e do desejo; que não castigam seus corpos nem negam os seus desejos; que não matam os seus semelhantes movidos por miragens; que não se deixam enlouquecer pela mania de possuir coisas? O ônus da vida consciente de si desperta no animal humano a nostalgia do simples existir: o desejo intermitente de retornar a uma condição anterior à conquista da consciência. — A empresa, contudo, padece de uma contradição fatal. A intenção de se livrar da autoconsciência visando a completa imersão no fluxo espontâneo e irrefletido da vida pressupõe uma aguda consciência de si por parte de quem a alimenta. Ela é como o fruto tardio sonhando em retornar à semente da qual veio ao galho. [...] O desejo de saltar para aquém do cárcere do pensar se pode compreender — e até cultivar — em certa medida, mas o lado de fora não há. A consciência é irreparável; dela, como do tempo, ninguém torna atrás ou se desfaz. Desmorder a maçã não existe como opção.
GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos, 2016.
a) No contexto do ensaio, o que significa “desmorder a maçã”?
b) Quais são os referentes dos três pronomes sublinhados no ensaio
Soluções para a tarefa
Resposta:
a) “Desmorder a maçã” sugere intertextualmente um retorno aos primórdios, na Bíblia, em Gênesis, pois “morder a maçã” significa cometer o pecado original, que trouxe aos seres humanos a expulsão do paraíso, decorrendo daí sentimento de culpa e a consciência de si mesmos. Para o autor, retroceder até o estado de pureza e inconsciência da origem da humanidade “não existe como opção”.
b) O pronome oblíquo “o” refere-se à oração anterior “que não sabem para que vivem”; “se” refere-se a “seres” e “a” a “intenção”.
Explicação:
Confia, espero ter ajudado!
a) A expressão “desmorder a maçã” significa retornar a um estado em que não haja consciência humana, ou seja, o ser humano voltar ao momento anterior ao ato de comer o fruto da verdade no Éden e não fazê-lo para, assim, não ter consciência de sua condição humana e não sofrer as angústias trazidas por isso.
b) Os referentes dos pronomes destacados são:
- “nem sabem que não o sabem” => "para que vivem";
- “que não se exaurem” => "seres";
- “quem a alimenta” => "A intenção de se livrar da autoconsciência".
Uso de pronomes
Os pronomes destacados acima foram usados para realização a coesão textual, evitando a repetição de termos e expressões. Todos estão em função anafórica, pois retomam palavras e expressões já citados.
Mais sobre pronomes em:
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