A internet facilita a vida de quem odeia
Se a globalização fez com que bobagens alcançassem escala global, a internet maximizou a expressão de ódio, de intolerância, de exacerbação de preconceitos e da violência da linguagem. Mas a internet não cria o sentimento de ódio, talvez apenas torne mais evidente aquilo que só se daria no campo do relacionamento pessoal.
Há cem anos, se eu fosse um racista, precisaria expressar meu racismo num livro. Para publicar um livro, eu teria de escrevê-lo durante meses. Depois teria de revisá-lo, achar um editor e vendê-lo. Dava muito trabalho. Hoje eu faço um post, e com um enter, atinjo mais gente do que um livro clássico atingiria.
O ataque anônimo nas redes, sem o custo do ataque pessoal, deu ao ódio do covarde uma energia muito grande. Deu-lhe a proteção da distância física e do anonimato. O pior do ódio social, que é universal, agora pode ser dirigido sem custos. Numa comunidade, as relações são pessoais. Na rede, deletérias.
É errado, portanto, dizer que a internet transformou as pessoas em odiosas. Mas é fato que ela gera mais tranquilidade no exercício desse ódio. O enter é tão destruidor quanto qualquer outra coisa. Antes da internet, matar dava trabalho. Agora, incita-se o ódio com um clique.
Junte a proteção do anonimato e da distância, o senso de identidade do ódio e acrescente um terceiro elemento importante: posso a todo instante dialogar com todos. Isso me empodera. Imagine se no passado alguém teria acesso ao universo de pessoas em todo o mundo que temos hoje? Hoje, com um simples post, posso enlamear. Não preciso ter mais compromisso, algo diferente da mentira. A mentira é usada por alguém que tem noção da verdade. Não importa saber se é verdade. O que importa é a sua eficácia.
KARNAL, Leandro. Todos contra todos: o ódio nosso de cada dia. Rio de Janeiro: Leya, 2017. Adaptado.
exacerbação: exageração; aumento.
deletérias: prejudiciais.
A palavra destacada expressa valor lógico-semântico de condição na frase:
A
“Se a globalização fez com que bobagens alcançassem escala global, a internet maximizou a expressão de ódio, de intolerância, de exacerbação de preconceitos e da violência da linguagem.”
B
“Há cem anos, se eu fosse um racista, precisaria expressar meu racismo num livro.”
C
“Agora, incita-se o ódio com um clique.”
D
“Não importa saber se é verdade.”
E
“[...] talvez apenas torne mais evidente aquilo que só se daria no campo do relacionamento pessoal.”
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Resposta:
Resposta B
Explicação:
Na alternativa B, vemos o “se” com valor lógico-semântico de condição, já que introduz uma hipótese (condição), podendo ser substituído por “caso” em “caso eu fosse um racista”.
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