a infância dos indígenas
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Quando se fala em crianças indígenas, o universo é muito mais amplo do que normalmente o olhar do branco é capaz de captar.
"Algumas pessoas conhecem uma comunidade indígena ou um índio e acham que essa é a realidade indígena brasileira, quando na verdade são mais de 225 etnias ou povos diferenciados entre si. E esses povos falam no mínimo 180 línguas. Então a prática de vida, espiritualidade, tudo totalmente diferente. Acho que seria, hoje, as pessoas verem o mundo asiático e pensar que japonês, chinês, coreano, vietnamita são o mesmo povo."
Vilmar nasceu no Tocantins, em um dos vários povoados da etnia Guarany. Hoje é advogado e atua na causa indígena. Ou causas indígenas, como ele mesmo destacou.
As crianças representam 43% dos cerca de 735 mil indígenas do Brasil. Debater a situação das crianças e dos jovens passa pela sociedade e pelos governos conhecerem tradições de um grupo estereotipado e muitas vezes invisível em suas necessidades, como diz a jovem Jaqueline Ciríaco, do povo Potiguara, na Paraíba.
"Da mesma forma que a gente foi obrigado a aprender o que veio de fora para gente não ser engolido por essa tal globalização, as pessoas que buscam trabalhar pelos povos indígenas, o governo em geral, têm que aprender com a gente. E conselhos tutelares têm que saber da realidade dos povos indígenas, e não do povo indígena como estava sendo discutido até agora pouco ali, de você generalizar uma situação, o que acontece em um povo vai acontecer no outro igual, isso não é verdade."
Os Conselhos Tutelares atuam na defesa dos direitos das crianças e adolescentes. Mas não há uma abordagem específica para os povos indígenas, e os grupos avaliam que sua atuação tem causado mais problemas do que levado soluções às comunidades.
Esses relatos se transformaram em propostas incluídas no Plano Decenal de Direitos Humanos para Crianças e Adolescentes, que é a diretriz de trabalho para os próximos dez anos.
Uma das reclamações é que os conselheiros avaliam costumes da tribo como exploração do trabalho infantil.
Wallison Araújo, Coordenador do Sistema de Garantia dos Direitos da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, reconhece essa realidade, mas aponta que o governo já recomenda cautela aos Conselhos Tutelares.
"Por exemplo, entender que uma criança ou uma adolescente que está acompanhando a sua mãe em um processo de disseminação do artesanato ou de venda do artesanato, aquilo faz parte, na verdade, do próprio desenvolvimento societário ou social dos povos indígenas e sob hipótese nenhuma, ou via de regra, não vai se materializar como trabalho infantil, ou exploração do trabalho infantil."
Para início de conversa sobre infância, entre os povos indígenas não há consenso sobre o que separa a criança da idade adulta, como conta o professor Edilson Melgueira, da etnia Baniwa, no Amazonas.
"O Estado Brasileiro estabelece que criança é até 12 anos e adolescente é até 18. Na concepção indígena, na maioria dos povos, não tem, só tem a fase de criança e então já vai pra fase adulta, isso varia de povo para povo e varia de idade também. Esse é o primeiro passo. O segundo, que eu vejo com uma certa urgência, é demarcação de terras indígenas. Não tem como pensar políticas públicas para crianças, velhos ou para outras pessoas indígenas se o governo não consegue demarcar as terras indígenas."
A demarcação das terras segue como a principal demanda das lideranças indígenas, ao lado do respeito para com os costumes em meio a um mundo cada vez mais globalizado.
Como explica Vilmar Guarany, as tradições forjaram a identidade que busca sobreviver depois de centenas de anos.
"Quando vê um jovem indígena Xavante, Krikati ou Gavião, correr com toras, toras de madeira de 20, 30, 50 quilos, até 70 quilos, alguém pode falar que é uma tortura pra elas, mas eles crescem sendo preparados para isso, têm uma força física, um vigor muito maior que uma criança ou até uma pessoa adulta aqui da cidade. Em nenhum momento a comunidade, aquele povo vê isso como violência como algo ruim. Os pais e mães se orgulham de ver seus filhos devidamente preparados para enfrentar a vida."
"Algumas pessoas conhecem uma comunidade indígena ou um índio e acham que essa é a realidade indígena brasileira, quando na verdade são mais de 225 etnias ou povos diferenciados entre si. E esses povos falam no mínimo 180 línguas. Então a prática de vida, espiritualidade, tudo totalmente diferente. Acho que seria, hoje, as pessoas verem o mundo asiático e pensar que japonês, chinês, coreano, vietnamita são o mesmo povo."
Vilmar nasceu no Tocantins, em um dos vários povoados da etnia Guarany. Hoje é advogado e atua na causa indígena. Ou causas indígenas, como ele mesmo destacou.
As crianças representam 43% dos cerca de 735 mil indígenas do Brasil. Debater a situação das crianças e dos jovens passa pela sociedade e pelos governos conhecerem tradições de um grupo estereotipado e muitas vezes invisível em suas necessidades, como diz a jovem Jaqueline Ciríaco, do povo Potiguara, na Paraíba.
"Da mesma forma que a gente foi obrigado a aprender o que veio de fora para gente não ser engolido por essa tal globalização, as pessoas que buscam trabalhar pelos povos indígenas, o governo em geral, têm que aprender com a gente. E conselhos tutelares têm que saber da realidade dos povos indígenas, e não do povo indígena como estava sendo discutido até agora pouco ali, de você generalizar uma situação, o que acontece em um povo vai acontecer no outro igual, isso não é verdade."
Os Conselhos Tutelares atuam na defesa dos direitos das crianças e adolescentes. Mas não há uma abordagem específica para os povos indígenas, e os grupos avaliam que sua atuação tem causado mais problemas do que levado soluções às comunidades.
Esses relatos se transformaram em propostas incluídas no Plano Decenal de Direitos Humanos para Crianças e Adolescentes, que é a diretriz de trabalho para os próximos dez anos.
Uma das reclamações é que os conselheiros avaliam costumes da tribo como exploração do trabalho infantil.
Wallison Araújo, Coordenador do Sistema de Garantia dos Direitos da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, reconhece essa realidade, mas aponta que o governo já recomenda cautela aos Conselhos Tutelares.
"Por exemplo, entender que uma criança ou uma adolescente que está acompanhando a sua mãe em um processo de disseminação do artesanato ou de venda do artesanato, aquilo faz parte, na verdade, do próprio desenvolvimento societário ou social dos povos indígenas e sob hipótese nenhuma, ou via de regra, não vai se materializar como trabalho infantil, ou exploração do trabalho infantil."
Para início de conversa sobre infância, entre os povos indígenas não há consenso sobre o que separa a criança da idade adulta, como conta o professor Edilson Melgueira, da etnia Baniwa, no Amazonas.
"O Estado Brasileiro estabelece que criança é até 12 anos e adolescente é até 18. Na concepção indígena, na maioria dos povos, não tem, só tem a fase de criança e então já vai pra fase adulta, isso varia de povo para povo e varia de idade também. Esse é o primeiro passo. O segundo, que eu vejo com uma certa urgência, é demarcação de terras indígenas. Não tem como pensar políticas públicas para crianças, velhos ou para outras pessoas indígenas se o governo não consegue demarcar as terras indígenas."
A demarcação das terras segue como a principal demanda das lideranças indígenas, ao lado do respeito para com os costumes em meio a um mundo cada vez mais globalizado.
Como explica Vilmar Guarany, as tradições forjaram a identidade que busca sobreviver depois de centenas de anos.
"Quando vê um jovem indígena Xavante, Krikati ou Gavião, correr com toras, toras de madeira de 20, 30, 50 quilos, até 70 quilos, alguém pode falar que é uma tortura pra elas, mas eles crescem sendo preparados para isso, têm uma força física, um vigor muito maior que uma criança ou até uma pessoa adulta aqui da cidade. Em nenhum momento a comunidade, aquele povo vê isso como violência como algo ruim. Os pais e mães se orgulham de ver seus filhos devidamente preparados para enfrentar a vida."
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