A hora da estrela é, sem dúvida, uma das obras mais célebres de Clarice Lispector. De tema e estilo marcadamente modernistas, o enredo conta a história de Macabea, mulher nordestina que alegoriza essa "insistente raça anã", emigrante da seca e miséria, em destino ao Sudeste economicamente desenvolvido, em busca de mínimas condições de dignidade e existência.
A autora explora, por outro lado, não só a falta de dignidade material da personagem Macabea, ao longo do enredo. Há, muito marcada, uma forma de pobreza simbólica na protagonista, que carece de entendimento sobre sua própria condição humana, civil, social e sexual.
Trata-se, nesse sentido, de um romance de estilo modernista que desconstrói a unidade da consciência da personagem e dialoga intensamente com a teoria psicanalítica. Assim sendo, analise os excertos do texto de Lispector sobre Macabea à luz da teoria freudiana da metapsicologia e assinale a alternativa que apresenta a ordem correta em que aparecem os conceitos psicanalíticos:
I. "Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes."
II. "Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou."
III. "A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique."
IV. "Também sei das coisas por estar vivendo. Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe. Assim é que os senhores sabem mais do que imaginam e estão fingindo de sonsos."
V. "Bem, é verdade que também eu não tenho piedade do meu personagem principal, a nordestina: é um relato que desejo frio. [...] Não se trata apenas de narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira. [...] Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiram como não existiriam. Poucas se queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem. Esse quem será que existe?"
A.
I. Thanatos ( pulsão de morte).
II. Eros ( pulsão ).
III. Fase pré-edipiana
IV. Desejo recalcado.
V. Inconsciente.
B.
I. Thanatos ( pulsão de morte ).
II. Eros ( pulsão ).
III. Desejo recalcado.
IV. Inconsciente.
V. Fase pré-edipiana.
C.
I. Thanatos ( pulsão de morte ).
II. Eros ( pulsão ).
III. Inconsciente.
IV. Desejo recalcado.
V. Fase pré-edipiana.
D.
I. Thanatos ( pulsão de morte ).
II. Desejo recalcado.
III. Fase pré-edipiana.
IV.Eros ( pulsão ).
V. Inconsciente.
E.
I. Thanatos ( pulsão de morte ).
II. Fase pré-edipiana.
III. Eros ( pulsão ).
IV. Desejo recalcado.
V. Inconsciente.
Soluções para a tarefa
Resposta:
C.
I. Thanatos ( pulsão de morte ).
II. Eros ( pulsão ).
III. Inconsciente.
IV. Desejo recalcado.
V. Fase pré-edipiana.
Explicação:
"Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida" é uma clara alusão ao conceito de pulsão de morte freudiano.
"Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida." Nessa metáfora, Clarice brinca com a natureza (as moléculas) como se nela houvesse o desejo, a força vital (pulsão de vida, ou eros) que move o ser humano a literalmente viver, segundo a teoria freudiana.
"A verdade é sempre um contato interior inexplicável [...] e não tem uma só palavra que a signifique." Essa passagem exprime de maneira poética o conceito freudiano de inconsciente, no sentido de que é nele que reside a "verdade" escondida, latente, sobre o real desejo do ser humano, verdade essa impossível de ser expressa por palavras que lhe deem significado, por isso sua qualidade inconsciente.
"Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe." Por extensão aos dois conceitos tratados anteriormente, tem-se aqui a expressão poética do que é o desejo (ou também o trauma) recalcado no inconsciente: aquele a mais que é intuído, sentido de longe, mas que o sujeito não consegue organizar racionalmente em palavras.
"Não se trata apenas de narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira. [...] Poucas se queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem." Por fim, aqui há a expressão poética da fase pré-edipiana, aquela em que a criança está ainda imersa no mundo da natureza, infantilizada, incapaz de defender-se por meio de palavras e ainda incapaz de entender-se separada da mãe, da progenitora, ou seja, completamente dependente e desamparada, despreparada ainda para a entrada traumática no mundo da cultura. Esse quadro de uma condição infantil que ainda mal ascendeu ao mundo simbólico da cultura e da relação com o outro em sociedade é a metáfora alegórica (de ampla representação) que Clarice busca construir, de forma poética, por meio de Macabea, tratando, em verdade, das "milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa" e que "Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiram como não existiriam", justamente porque não adentraram no mundo da cultura e, portanto, ainda não têm plena consciência de si e de sua autonomia social, nem mesmo empoderamento político e jurídico, tornando-se vítimas, aos montes, da exploração econômica e sexual na metrópole carioca.
Resposta:
C.
I. Thanatos ( pulsão de morte ).
II. Eros ( pulsão ).
III. Inconsciente.
IV. Desejo recalcado.
V. Fase pré-edipiana.
Explicação:
"Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida" é uma clara alusão ao conceito de pulsão de morte freudiano.
"Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida." Nessa metáfora, Clarice brinca com a natureza (as moléculas) como se nela houvesse o desejo, a força vital (pulsão de vida, ou eros) que move o ser humano a literalmente viver, segundo a teoria freudiana.
"A verdade é sempre um contato interior inexplicável [...] e não tem uma só palavra que a signifique." Essa passagem exprime de maneira poética o conceito freudiano de inconsciente, no sentido de que é nele que reside a "verdade" escondida, latente, sobre o real desejo do ser humano, verdade essa impossível de ser expressa por palavras que lhe deem significado, por isso sua qualidade inconsciente.
"Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe." Por extensão aos dois conceitos tratados anteriormente, tem-se aqui a expressão poética do que é o desejo (ou também o trauma) recalcado no inconsciente: aquele a mais que é intuído, sentido de longe, mas que o sujeito não consegue organizar racionalmente em palavras.
"Não se trata apenas de narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira. [...] Poucas se queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem." Por fim, aqui há a expressão poética da fase pré-edipiana, aquela em que a criança está ainda imersa no mundo da natureza, infantilizada, incapaz de defender-se por meio de palavras e ainda incapaz de entender-se separada da mãe, da progenitora, ou seja, completamente dependente e desamparada, despreparada ainda para a entrada traumática no mundo da cultura. Esse quadro de uma condição infantil que ainda mal ascendeu ao mundo simbólico da cultura e da relação com o outro em sociedade é a metáfora alegórica (de ampla representação) que Clarice busca construir, de forma poética, por meio de Macabea, tratando, em verdade, das "milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa" e que "Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiram como não existiriam", justamente porque não adentraram no mundo da cultura e, portanto, ainda não têm plena consciência de si e de sua autonomia social, nem mesmo empoderamento político e jurídico, tornando-se vítimas, aos montes, da exploração econômica e sexual na metrópole carioca.