A grande maioria dos moradores de lugares violentos e segregados - demonstram as pesquisas - são trabalhadores honestos que repudiam a criminalidade e cujas as aspirações são bastante semelhantes às da classe média: ter uma casa confortável, oferecer uma boa educação aos filhos, ver a família progredir por meio do trabalho honesto. Se a explicação da violência não está na pobreza, onde está?
Soluções para a tarefa
A violência no Brasil é um problema sistêmico que nos acompanha desde os tempos de colonização. Quando os portugueses chegaram às terras brasileiras, já houve uma apropriação indevida das terras que pertenciam aos índios e uma imposição violenta da cultura europeia branca sobre a cultura indígena. Com a escravização de povos africanos, essa imposição cultural violenta continuou e ficou ainda mais intensa.
A imposição cultural forçada é, em si, uma forma de violência, pois ela gera a anulação forçada da individualidade do outro, da realidade do outro, da religião do outro e da cultura do outro. Ademais, essa imposição forçada de uma cultura dominante gera uma sociedade violenta. Na medida em que há exclusão de um grupo étnico, esse grupo, que tende a não ter acesso aos mesmos serviços que o grupo dominante, que cresce na miséria, sem expectativa de crescimento, tende também a reproduzir a violência que lhe foi imposta pela exclusão desde criança.
O sistema econômico brasileiro sempre foi excludente. Em nossa formação, a exclusão começou com a forma como os colonos tomaram e apropriaram-se das terras indígenas, mantendo-se como donos legítimos em um sistema excludente. Ainda hoje, a exclusão social e o acesso aos bens mantêm-se, sendo essa exclusão o maior problema causador da violência.
Na esteira da exclusão, temos um sistema que, além de concentrar a posse das terras, concentra o acesso à educação e à saúde de qualidade nas mãos das elites dominantes. Nesse sistema, é quase impossível a ascensão social, o que mantém uma classe social marginalizada. Quando não há acesso aos serviços básicos e dificuldade de mobilidade social, a violência torna-se um problema crônico. Aliado a esse cenário, temos um sistema de educacional falho, que não consegue dar conta do ensino formal de instrução e dos problemas morais da sociedade.
Para entendermos como a exclusão social, motivada também pela etnia, gera violência: no ano de 1888, a escravidão foi abolida no Brasil com a promulgação da Lei Áurea. Os descendentes de africanos que aqui eram escravizados foram libertos. Nenhuma indenização foi dada a eles, pelo contrário, a indenização foi dada aos ex-proprietários de escravos. Os ex-escravizados foram deixados à deriva.
Sem educação, sem emprego, sem lugar na sociedade, sem moradia e sem comida, eles foram habitar os locais que ninguém mais queria habitar, formando as favelas e periferias em zonas urbanas. Além disso, pessoas brancas sem moradia também foram para as mesmas periferias. A violência urbana surge a partir do momento em que as condições de vida para uma grande parte da população de um local não são boas. Somam-se a fome, a miséria e a falta de perspectiva e cria-se uma panela de pressão prestes a explodir. Há todo um sistema criado, inclusive, para manter as coisas como estão: manter a riqueza concentrada e impedir que a massa da população atinja uma situação social mais digna.
Portanto, ao analisarmos a formação econômica do Brasil em relação a outros países europeus e da América do Norte, o fator fundante dos altos índices de violência está, em suas raízes mais profundas, ligado ao tipo de colonização e ao capitalismo predador.
espero ter ajudado>ᴗ<