A gente passa a vida comprovando: mulheres choram mais que os homens. Com as devidas exceções, claro, que elas existem também para bagunçar os textos cheios de certezas dos colunistas. Mas na regra, no duro, no doa a quem doer, o páreo é desigual. Mulher chora muito mais. Não há crise hídrica que faça uma moça economizar suas lágrimas. Basta um pequeno motivo ou uma suspeita de motivo, e pronto. Lá vem água.
No começo todo mundo chora igual. Saímos da barriga em um berreiro que assustaria, não fosse sintoma de vida. Curiosidade: no Japão se acredita que o choro dos bebês traz sorte. É por isso que acontece lá o famoso Nakizumo - Campeonato Anual de Choro de Bebês –, no templo de Sensoji, em Tóquio. Dois lutadores de sumô entram no tablado, cada um segurando um competidor, que pode ter de quatro meses a dois anos de idade. O que chorar mais alto, ganha. Esqueci de dizer que, para o choro dar sorte, o bebê deve estar no colo de um lutador de sumô.
Mas já na tenra infância as diferenças aparecem. Assim como um certo charme de fábrica, o choro logo vira arma das menininhas. Foi o que observei na qualidade de tia de cinco sobrinhas e das inúmeras amiguinhas do meu filho. Enquanto os guris são meio toscos e vão conseguindo o que querem na base da chateação, elas usam da negociação e, quando o recurso falha, das lágrimas para não comer chuchu, não dormir, ganhar um presentinho fora do previsto, atrair a atenção, encerrar uma briga. Ainda pelas minhas observações, quase sempre dá certo.
Na adolescência, bom, daí só chamando a Corsan para fechar o registro. Se o guri (ou guria) não gosta da gente. Se o guri (ou guria) gosta. Se a gente engorda. Se é magra demais. Se vai mal na escola. Se não pode sair de noite. Se não é tão popular quanto gostaria. Se não compra as mesmas coisas que os amigos mais abonados compram. Se não recebe um convite. Se não pode viajar. Se tem coisa de que não tenho saudade alguma é da minha adolescência. E se por acaso lembro dela, me vejo sempre na cama, no escuro, ouvindo um LP triste. E chorando. Chorava tanto que um dia meu pai, homem prático, abriu a porta do quarto e disse: mas quem sabe vai ler em vez de ficar nesse chororô? Tivesse seguido o conselho dele e hoje eu seria um gênio.
E então vem os filmes românticos. Os livros românticos. Os amores românticos. E dê-lhe água. Não é nada premeditado, de caso pensado. Acontece naturalmente no fogo de uma discussão com a mãe, com o namorado, com uma amiga, com a irmã, com os filhos, com o chefe, com o entregador de gás. Não que faltem argumentos, o problema é que sobram lágrimas. Aí entram todas as explicações hormonais possíveis, mas quer saber? Reduzir um fenômeno da natureza a hormônio é muita falta de sensibilidade. Mulheres são líquidas. Só um coração de pedra para não entender.
*Corsan: Companhia Riograndense de Saneamento, é como se fosse a Sanesul do nosso estado.
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O texto lido é desenvolvido de que forma?
(1 Ponto)
a) São fatos que aconteceram recentemente de forma sucinta.
b) É a discussão sobre um tema de interesse da sociedade e traz a opinião de especialistas, como outros recursos de imagem.
c) É uma narrativa que envolve seres mágicos.
d) É um diário, no qual a autora discorre sobre as suas aventuras.
e) É um texto que visa refletir com uma certa dose de humor e informalidade aspectos comuns do cotidiano, dentre eles o choro.
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Resposta:
E.
Explicação:
Já no começo e mostrado o humor, a ironia
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