A era do tô me achando
“Bacanas teus óculos”, falei. Leves, classudos,
num tom esportivamente escuro, cada lente com
uma sombra que subia de baixo para cima, tornavam
misterioso o olhar do amigo, um jovem editor. Comentei
que nunca o tinha visto de óculos. Ele devolveu: “Pois é,
mas eu estava com a vista cada vez mais cansada, até
que fui ao oculista e ele me disse que precisava usar.
Dois graus de miopia. Excesso de leitura. Fazer o quê...”,
compungiu-se, o olhar vago, empurrando o par de lentes
nariz acima com um charme intelectualmente sofrido.
Mês depois, encontrei uma amiga cujo pai é oftalmologista. Entre anedota e outra, ela me contou que um
curioso cliente do pai havia pedido um modelo de óculos
sem grau. É, era ele mesmo – o editor.
Vivemos tempos curiosos. A cada segundo, e através
de todos os meios possíveis, somos expostos aos
corpos mais perfeitos, às biografias mais irretocáveis, à
pose generalizada de famosos e anônimos. Vaidade pura.
Mas um momento: você já experimentou sair por aí todo
mulambento, comparecer despenteado a uma entrevista
de emprego, esconder de parentes e amigos aquele
êxito nos estudos? Impossível, não? Porque, hoje, não
ter vaidade – não ter o hábito de apregoar aos quatro
cantos, reais e virtuais, o quanto você pode ser atraente,
sensacional e único – parece ser um dos maiores
pecados da nossa era, esse tempo em que todo mundo
parece estar “se achando”.
Por isso, os óculos de araque do meu amigo.
No meio altamente intelectualizado em que ele vive,
circulando entre Festas Literárias de Paraty e debates
seguidos de sessões de autógrafo nas livrarias mais
chiques do eixo Rio-São Paulo, ostentar uma armação
bacanuda é o equivalente, em termos culturais, às
pernas muito bem torneadas – horas de academia – da
mocinha da novela das 8. Ou seja: tudo é vaidade.
1
Em qual sequência é caracterizada uma descrição?
(A) “Leves, classudos, num tom esportivamente escuro, cada
lente com uma sombra que subia de baixo para cima,”
(. 1-3)
(B) “ ‘Pois é, mas eu estava com a vista cada vez mais
cansada, até que fui ao oculista...’ ” (. 5-7)
(C) “Mês depois, encontrei uma amiga cujo pai é oftalmologista.” (. 11-12)
(D) “ela me contou que um curioso cliente do pai havia pedido um modelo de óculos sem grau.” (. 12-14)
(E) “É, era ele mesmo – o editor.” (. 14)
Soluções para a tarefa
Respondido por
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Resposta:
primeira opção, letra a.
tenho certeza já que nas outras já são totalmente fora do contexto "descrição"
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