A doença das fake news
Com fatos associados a omissões, produz-se desinformação
É incalculável o estrago que fazem as fake news, sobretudo em tempos de crise. Como tendem a ser mentiras deslavadas, porém, têm pernas curtas. Muito pior é a desinformação, quando aparece apoiada em casos reais. Somem-se dez dados verdadeiros e omita-se um. Basta isso.[...]
Tomemos como exemplo real um programa sobre o coronavírus da Fox News (The Ingraham Angle), em um momento em que a política dos republicanos é minimizar o perigo. A jornalista cita um professor de Yale, mostrando inúmeras lacunas no conhecimento da pandemia. Mas deixa de dizer que, com os dados já existentes, os cientistas desenvolveram modelos confiáveis (e alarmantes) de predição. Menciona também que uma mulher, contaminada, conviveu com 373 pessoas e apenas uma contraiu a doença. Na ciência, um caso, no máximo, sugere uma pista. O que conta são as análises de dados — e eles confirmam que o número de novos doentes dobra a cada dois ou três dias, mesmo diante de contenção severa.
“Somos iludidos pela manipulação de gravetinhos de ciência. Precisamos de clareza e ações enérgicas”
Notou-se que há pessoas com imunidades naturais. É verdade, mas os que não as têm são suficientes para provocar uma catástrofe epidemiológica. A apresentadora afirma que não se sabe quem foi o “paciente zero” — uma inverdade, mas não é esse o ponto. A identificação não é essencial para quantificar a epidemia e lidar com ela. Em seguida, mostra estatísticas de várias epidemias do passado, mencionando que, praticamente, não houve vítimas americanas. Há dois erros, porém. O primeiro: ela cita o balanço de epidemias já superadas. E não faz sentido compará-las com uma que está em plena expansão no Ocidente. O segundo é omitir que, nas anteriores, as mortes foram estancadas por via de campanhas vigorosas.
Culpa dos chineses que escamotearam o problema lá no início de tudo? Sim e não. As autoridades provinciais, apesar da demora, bloquearam os acessos, interromperam as movimentações. O governo central promoveu ações exemplares — em que pese o vaivém da transparência. Imputar culpas não leva a soluções. Se a China financia a OMS, é nítido que suas declarações não foram manipuladas. E mais: os melhores cientistas não discordaram da postura chinesa do ponto de vista da saúde pública. Sub-repticiamente, sugere-se que os cientistas estão perdidos. Perdidos estaremos nós, iludidos pela manipulação de gravetinhos de ciência. Precisamos de clareza, serenidade e ações enérgicas.
[...]
O texto de Cláudio Moura Castro é caracterizado como uma reportagem por meio
(A)
da ironia literária presente na tese do gênero.
(B)
do registro de fatos apresentados pelo autor, sem juízo de valor.
(C)
da presença do "olho", que evidencia um trecho importante lido.
(D)
da relação que não precisa ser mantida entre o texto da reportagem com o título e a linha-fina.
Soluções para a tarefa
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LETRA C
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