A cidade Era uma vez um homem que vivia fora dos muros da cidade. Se cometera algum crime, se pagava culpas de antepassados, ou se apenas se retirara por indiferença ou vergonha - não se sabe. Talvez um pouco de tudo isto, tão certo é que do belo e do feio, da verdade e da mentira, do que se confessa e do que se esconde, fazemos todos nós a nossa casual existência. Vivia o homem fora dos muros da cidade, e dessa segregação deliberada ou imposta acabou por fazer um pequeno título de glória. Mas não podia evitar (isso não podia) que nos olhos lhe pairasse a névoa melancólica que envolve todo o ser desterrado. Algumas vezes tentou entrar. Fê-lo não por um desejo irreprimível, nem sequer por cansaço da situação, mas por mero instinto de mudança ou desconforto inconsciente. Escolheu sempre as portas erradas, se portas havia. E se lhe aconteceu julgar que entrara na cidade, talvez sim, mas era como se a par da cidade real houvesse imagens dela, inconsistentes como a sombra que nos olhos se tornava mais e mais densa. E quando essas imagens se desvaneciam, como o nevoeiro que das águas se desprende ao toque luminoso do sol, era o deserto que o rodeava, e ao longe, brancos e altos, com árvores plantadas nas torres e jardins suspensos nas varandas, os muros da cidade brilhavam outra vez inacessíveis. De dentro vinham rumores de festa. Assim lho dizia, mais do que os sentidos, a imaginação. Rumores de vida seriam, pelo menos. Não a morte solitária que é a contemplação obstinada da própria sombra. Não o desespero surdo da palavra definitiva que se escapa no momento em que seria, melhor que uma palavra, uma chave. E então o homem rodeava as longas muralhas, tateando, à procura da porta que obscuramente lhe estaria prometida. Porque o homem acreditava na predestinação. Estar fora da cidade (se disso tinha real consciência) era para ele uma situação acidental e provisória. Um dia, no dia exato, nem antes, nem depois, entraria na cidade. Melhor dizendo: entraria em qualquer parte, que a isto se resumia o seu esperar. Que a névoa da melancolia se tornasse noite, seria um mal necessário, mas também provisório, porque o dia predestinado traria uma explicação. Ou nem isso, sequer. Um fim, um simples fim. (...)
(SARAMAGO, Jose. Deste mundo e do outro. Crônicas. 8. ed. Lisboa: Editonal Caminho, 2011. p. 11-12. Cortesia da Fundação José Saramago
josesaramago.org>. Disponível em: . Acesso em: 11 jan. 2016.
)
*O texto de Saramago perpassa um contexto de exclusão sobre o direito à cidade. Você consegue enxergar tal situação?
Retire do texto excertos que confirmem situações de exclusão e um que remeta à esperança da conquista
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Olá,
O ritmo da urbanização tem crescido em medidas nunca antes vistas, é normal perceber que o fenômeno da conurbação atinge cada vez mais cidades brasileiras. A cidade é caracterizada por possuir infraestrutura, saneamento básico, luz e urbanização.
Atualmente este é o direito à cidade, possuir acesso a saneamento básico, infraestrutura, luz e todas essas características da cidade, um autor afirma que "os direitos da propriedade privada e a taxa de lucro superam todas as outras noções de direito". E nem todos atualmente possuímos o direito a propriedade privada.
Alguns trechos que indiquem o que foi pedido no enunciado:
"Um dia, no dia exato, nem antes, nem depois, entraria na cidade. Melhor dizendo: entraria em qualquer parte, que a isto se resumia o seu esperar."
" se lhe aconteceu julgar que entrara na cidade, talvez sim, mas era como se a par da cidade real houvesse imagens dela, inconsistentes como a sombra que nos olhos se tornava mais e mais densa. E quando essas imagens se desvaneciam, como o nevoeiro que das águas se desprende ao toque luminoso do sol, era o deserto que o rodeava, e ao longe, brancos e altos, com árvores plantadas nas torres e jardins suspensos nas varandas, os muros da cidade brilhavam outra vez inacessíveis."
" Algumas vezes tentou entrar. Fê-lo não por um desejo irreprimível, nem sequer por cansaço da situação, mas por mero instinto de mudança ou desconforto inconsciente. "
O ritmo da urbanização tem crescido em medidas nunca antes vistas, é normal perceber que o fenômeno da conurbação atinge cada vez mais cidades brasileiras. A cidade é caracterizada por possuir infraestrutura, saneamento básico, luz e urbanização.
Atualmente este é o direito à cidade, possuir acesso a saneamento básico, infraestrutura, luz e todas essas características da cidade, um autor afirma que "os direitos da propriedade privada e a taxa de lucro superam todas as outras noções de direito". E nem todos atualmente possuímos o direito a propriedade privada.
Alguns trechos que indiquem o que foi pedido no enunciado:
"Um dia, no dia exato, nem antes, nem depois, entraria na cidade. Melhor dizendo: entraria em qualquer parte, que a isto se resumia o seu esperar."
" se lhe aconteceu julgar que entrara na cidade, talvez sim, mas era como se a par da cidade real houvesse imagens dela, inconsistentes como a sombra que nos olhos se tornava mais e mais densa. E quando essas imagens se desvaneciam, como o nevoeiro que das águas se desprende ao toque luminoso do sol, era o deserto que o rodeava, e ao longe, brancos e altos, com árvores plantadas nas torres e jardins suspensos nas varandas, os muros da cidade brilhavam outra vez inacessíveis."
" Algumas vezes tentou entrar. Fê-lo não por um desejo irreprimível, nem sequer por cansaço da situação, mas por mero instinto de mudança ou desconforto inconsciente. "
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