A CASA DAS ILUSÕES PERDIDAS ( Moacyr Scliar)
Folha de São Paulo, 14/6/1999
Quando ela anunciou que estava grávida, a primeira reação dele foi de
desagrado, logo seguida de franca irritação. Que coisa, disse, você não podia
tomar cuidado, engravidar logo agora que estou desempregado, numa pior, você
não tem cabeça mesmo, não sei o que vi em você, já deveria ter trocado de
mulher havia muito tempo. Ela, naturalmente, chorou, chorou muito. Disse que
ele tinha razão, que aquilo fora uma irresponsabilidade, mas mesmo assim
queria ter o filho. Sempre sonhara com isso, com a maternidade -e agora que o
sonho estava prestes a se realizar, não deixaria que ele se desfizesse.
– Por favor, suplicou. – Eu faço tudo que você quiser, eu dou um jeito de arranjar
trabalho, eu sustento o nenê, mas, por favor, me deixe ser mãe.
Ele disse que ia pensar. Ao fim de três dias daria a resposta. E sumiu.
Voltou, não ao cabo de três dias, mas de três meses. Àquela altura ela já
estava com uma barriga avantajada que tornava impossível o aborto; ao vê-lo,
esqueceu a desconsideração, esqueceu tudo – estava certo de que ele vinha
com a mensagem que tanto esperava, você pode ter o nenê, eu ajudo você a
criá-lo.
Estava errada. Ele vinha, sim, dizer-lhe que podia dar à luz a criança; mas
não para ficar com ela. Já tinha feito o negócio: trocariam o recém-nascido por
uma casa. A casa que não tinham e que agora seria o lar deles, o lar onde –
agora ele prometia – ficariam para sempre.
Ela ficou desesperada. De novo caiu em prantos, de novo implorou. Ele se
mostrou irredutível. E ela, como sempre, cedeu.
Entregue a criança, foram visitar a casa. Era uma modesta construção num
bairro popular. Mas era o lar prometido e ela ficou extasiada. Ali mesmo, contudo,
fez uma declaração:
– Nós vamos encher esta casa de crianças. Quatro ou cinco no mínimo.
Ele não disse nada, mas ficou pensando. Quatro ou cinco casas, aquilo era
um bom começo.
Texto 2 – Notícia
POLÍCIA INVESTIGA TROCA DE BEBÊ POR CASA DA AGÊNCIA FOLHA
A polícia do Paraná está investigando três casos de doação ilegal de bebês no
Estado, que teriam sido trocados pelos pais por material de construção, cestas
básicas e por uma casa. Os três casos envolvem a troca de quatro crianças.
O caso mais recente aconteceu no mês passado, em Campina Grande
do Sul. Elizabete Souza Brandão, 18, entregou no dia 11 de maio a filha, nascida
dois dias antes, para um casal de Santa Catarina, ainda não localizado ou
identificado pela polícia. Elizabete está foragida e a polícia ainda não sabe onde
está a menina nem tem pistas do casal que a levou.
Em outro caso, que aconteceu em abril, no município de Pontal do
Paraná (litoral do Estado), Maria do Nascimento Silva, 38, entregou seu filho
para Jurema Marcondes Frumento.
Jurema, segundo a polícia, intermediou uma negociação com um casal
que teria levado a criança para o Mato Grosso.
A mãe, Maria do Nascimento, disse à polícia que, em troca do bebê,
receberia cestas básicas e uma casa em Pontal avaliada em R$ 13 mil. Ela
mesma denunciou o caso à polícia porque, apesar de ter recebido as cestas, não
ganhou a casa.
Jurema Frumento disse à Agência Folha ontem que não ganhou nada
intermediando a negociação. Em seu depoimento, ela disse que seu objetivo foi
ajudar Maria.
Responda:
1. Os dois textos abordam o mesmo assunto. Qual é
esse assunto?
2. Na crônica, sabemos que o autor buscou inspiração
no cotidiano, na vida real. Em que consiste esse
material?
3. De alguma forma, os dois textos, podem chocar o
leitor. Porém, em sua opinião, qual texto possui mais
sensibilidade? Por quê?
4. Preencha a tabela abaixo marcando um “x” na opção
correta.
Soluções para a tarefa
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discos objetivo foi aí da Maria
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