A bolsa amarela
(Lygia Bojunga Nunes)
Meu irmão chegou em casa com um embrulhão. Gritou da porta:
— Pacote da tia Brunilda!
Todo o mundo correu, minha irmã falou:
— Olha como vem coisa.
Rebentaram o barbante, rasgaram o papel, tudo se espalhou na mesa. Aí foi aquela confusão:
— O vestido vermelho é meu.
— Ih, que colar bacana! Vai combinar com meu suéter.
— Vê se veio alguma camisa do tio Júlio pra mim.
— Que sapato alinhado, tá com jeito de ser meu número.
Eu fico boba de ver como a tia Brunilda compra roupa. Compra e enjoa. Enjoa tudo: vestido, bolsa, sapato, blusa. Usa três, quatro vezes e pronto: enjoa. Outro dia eu perguntei:
— Se ela enjoa tão depressa, pra que ela compra tanto? É pra poder enjoar mais.
Ninguém me deu bola. Fiquei pensando no tio Júlio. Meu pai, dia que ele dá um duro danado pra ganhar o dinheirão que ele ganha. Se eu fosse ele, ficava pra morrer de ver a tia Brunilda gastar o dinheiro numas coisas que ela enjoa logo. Mas ele não fica. Eu acho isso tão esquisito” Outra coisa um bocado esquisita é que se ele reclama, ela diz logo: “Vou arranjar um emprego” Aí ele fala: “De jeito nenhum!” E dá mais dinheiro. Para ela comprar mais. E pra continuar enjoando. Vou ver se um dia eu entendo essa jogada.
Não parava de sair coisa do pacote. Minha mãe falou:
— Que boazinha que é a Brunilda: sabe como a gente vive apertada e cada vez manda mais roupa.
Eu parei de fazer o dever e fiquei espiando. Vi aparecer uma bolsa; todo o mundo pegou, examinou, achou feia e deixou pra lá. Antes, quando chegavam os pacotes da tia Brunilda e não sobrava nada pra mim, eu ficava numa chateação daquelas. E se eu pedia qualquer coisa o pessoal falava logo:
— Ora, tia Brunilda só manda roupa de gente grande, não serve pra você.
— É só cortar, diminuir.
— Não adianta: mesmo diminuindo tudo continua com cara de gente grande.
— Roupa não tem cara.
— Tem, sim, senhora.
E nunca fiquei com nada. Num instantinho sumiam com tudo, e usavam, usavam, usavam, até pifar. Aí, no dia que a roupa pifava, a gente ajeitava daqui e dali, e a roupa ficava pra mim. Eu não dizia nada. Até que uma vez não resisti e perguntei:
— Quer dizer que quando a roupa pifa, pifa também a tal cara de roupa de gente grande?
E o pessoal falou que sim, que era isso mesmo. (É por causa dessas coisas que eu queria tanto crescer: gente grande tá sempre achando que criança tá por fora.)
Aí aconteceu uma coisa diferente: de repente sobrou uma coisa pra mim.
– Toma, fica pra você.
Era a bolsa
(…)
Cheguei em casa e arrumei tudo que eu queria na bolsa amarela. Peguei os nomes que eu vinha juntando e botei no bolso sanfona. O bolso comprido deixei vazio, esperando uma coisa bem magra pra esconder lá dentro. No bolso bebê eu guardei um alfinete de fralda que eu tinha achado na rua, e no bolso de botão escondi uns retratos do quintal da minha casa, uns desenhos que eu tinha feito, e umas coisas que eu andava pensando. Abri outro zíper; escondi fundo minha vontade de crescer; fechei. Abri outro zíper; escondi mais fundo a minha vontade; fechei. […] Pronto! A arrumação tinha ficado legal. Minhas vontades tavam presas na bolsa amarela, ninguém mais ia ver a cara delas.
O trecho lido do texto "A bolsa amarela" apresenta características: *
5 pontos
a) ( ) narrativas.
b) ( ) instrucionais.
c) ( ) argumentativas.
d) ( ) descritivas.
Soluções para a tarefa
Respondido por
1
Resposta:
argumentativas.
Explicação:
espero q tenho ajudado
fernandesrodrigueslu:
obrigado
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