4) De que forma a chegada dos europeus prejudicou a população negra da época republicana?
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Resposta:
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PRESS RELEASE
Dados vol.53 no.3 Rio de Janeiro 2010
As consequências da imigração europeia para os negros paulistas
Por que imigrantes pobres e seus filhos rapidamente alcançaram posições melhores que os negros na sociedade paulista? Os historiadores geralmente afirmam que a chegada de grandes levas de imigrantes europeus marginalizou os negros, deixando-lhes somente empregos precários e mal remunerados. Em um artigo recente, um pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostrou que, apesar do racismo de fazendeiros e outros empregadores, os negros conseguiam competir com imigrantes no mercado de trabalho braçal no Oeste paulista. Entretanto, os negros sofriam várias outras desvantagens importantes, sobretudo a exclusão das elites e barreiras no sistema escolar.
O pesquisador Karl Monsma, professor de Sociologia na UFRGS, usou os dados individuais de um censo do município de São Carlos em 1907 para comparar as características de vários grupos de imigrantes com as de brasileiros negros e brancos, examinando ocupação, propriedade, estrutura familiar e alfabetização. A ocupação mais comum dos pais de família classificados como pretos e mulatos era de colono nas fazendas de café, que também era a ocupação mais comum dos pais de família italianos, espanhóis e portugueses. Negros e imigrantes ainda competiam em outros ofícios e ocupações manuais. A pesquisa detectou somente pequenas diferenças entre negros e os principais grupos imigrantes nas chances de adquirir terras ou outros imóveis até a data do censo.
O pesquisador ressalta, entretanto, que a mera presença de grande número de trabalhadores imigrantes era prejudicial aos negros, porque minava seu poder de negociação com os empregadores e limitava os salários de todos os trabalhadores. A pesquisa também mostra que os negros eram quase totalmente excluídos da elite, ao passo que havia muitos comerciantes, e alguns fazendeiros, entre os imigrantes, muitos dos quais chegaram ao Brasil com certo capital. A elite imigrante tendia a empregar seus compatriotas e discriminar os negros.
Também havia grandes diferenças entre as taxas de alfabetização de negros e imigrantes, que continuavam na nova geração. Na faixa de 15 a 20 anos, a porcentagem alfabetizada de filhos (e filhas) brasileiros de italianos era 2,7 vezes maior que a porcentagem entre filhos de pretos. Esta diferença não se explica somente pela maior taxa de analfabetismo entre os pais negros, porque persiste mesmo quando se comparam os filhos de analfabetos italianos e pretos. O pesquisador ressalta que, embora a frequência às escolas fosse oficialmente obrigatória, o racismo dos professores e dos outros alunos, na sua maioria filhos de imigrantes, provavelmente provocava maiores taxas de evasão entre crianças e adolescentes negras.
Analisando a estrutura familiar, o pesquisador mostrou que os principais grupos imigrantes, sobretudo os italianos, tinham famílias significativamente maiores que as dos negros, o que constituía outra vantagem porque as famílias maiores podiam ganhar mais como colonos. Essa diferença, segundo o pesquisador, se explica principalmente pela política de imigração subvencionada do Estado de São Paulo, que priorizava famílias maiores, embora os dados do censo também sugiram que os negros sofreram maiores taxas de mortalidade.
O artigo foi publicado na Dados - Revista de Ciências Sociais (vol. 53, nº 3, 2010). A pesquisa, realizada com o apoio do CNPq, é parte de um projeto maior abordando as consequências da imigração para o racismo brasileiro e a natureza das relações entre imigrantes e negros.