3) Por que o assunto no meme acima é tratado como hipocrisia?
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Explicação:
esforço para comprová-lo: basta olharmos à nossa volta para constatar a ausência quase completa de negros inseridos no âmbito da classe média. Embora representem, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), metade do total da população, dificilmente nos deparamos com médicos, engenheiros, professores, advogados, jornalistas, escritores, oficiais militares ou políticos negros. A renda média mensal dos negros, mesmo registrando um significativo crescimento ao longo das últimas décadas, ainda equivale a apenas 57,4% da dos brancos.
Mas, antes de tudo, os brasileiros somos hipócritas. Aqui, o racista é sempre o outro. Pesquisas apontam que 97% dos entrevistados afirmam não ter qualquer preconceito de cor, ao mesmo tempo em que admitem conhecer, na mesma proporção, alguém próximo (parente, namorado, amigo, colega de trabalho) que demonstra atitudes discriminatórias. É o chamado “racismo à brasileira” – fruto dileto da cínica e equívoca “democracia racial”, conceito que vem justificando, ao longo da história, a manutenção de um dissimulado apartheid, que segrega a população não-branca à base da pirâmide social.
O desdobramento do caso da torcedora do Grêmio, Patrícia Moreira, flagrada gritando ofensas contra o goleiro do Santos, Aranha, torna-se bastante sintomático da maneira como lidamos com a questão do racismo. Aranha registrou queixa na delegacia de polícia e o time gaúcho foi excluído da Copa do Brasil. Em entrevista coletiva, Patrícia pediu desculpas a Aranha e afirmou que não é racista: “Aquela palavra macaco não foi racismo da minha parte. Foi no calor do jogo, o Grêmio estava perdendo”. Outro torcedor, Rodrigo Rychter, que negou ter injuriado Aranha, contra-atacou dizendo que os torcedores somente reagiram às provocações do goleiro.
Tanto um quanto outro argumento esbarram em um empecilho de difícil transposição. Chamar alguém de macaco pelo fato de ser negro é racismo, e portanto não interessa em que contexto a agressão é proferida, se num estádio de futebol, num escritório de contabilidade ou num posto de gasolina. Assim como reagir a uma provocação usando termos ofensivos à cor da pele não se justifica, nem no campo desportivo nem numa discussão de trânsito. O preconceito racial molda o imaginário brasileiro e é crime que não permite atenuantes.
Lá mesmo em Porto Alegre, uma semana antes das ofensas contra o goleiro Aranha, o escritor Jeferson Tenório aguardava uma carona, na calçada do edifício onde mora, no centro da cidade, para ir trabalhar. De repente, surgiu um carro da Brigada Militar e dele desceu um policial exigindo-lhe os documentos. Em contato por rádio com a central, relatou: “O suspeito é negro, natural do Rio de Janeiro, estatura mediana, casaco preto”. Ao ser informado que o “suspeito” estava “limpo”, o policial desculpou-se, dizendo que apenas cumpria seu trabalho: alguém do prédio em frente havia solicitado a abordagem. Jeferson foi considerado perigoso pelo vizinho por ser negro! Em seus 37 anos de existência, esta foi a 12ª vez que ele sofreu uma abordagem policial, duas delas com uma arma apontada para seu peito...
Não custa lembrar que o Brasil possui uma dívida irresgatável para com a população negra. Trazidos à força para trabalhar como escravos a partir da metade do século XVI, o aprisionamento de africanos da costa ocidental (Angola, Nigéria, Benin) e de Moçambique intensificou-se entre 1700 e 1822, mas não há um número preciso de quantos deles chegaram vivos – estimado, entretanto, em algo em torno de quatro milhões. Libertos em 1888, não por razões humanitárias, mas por motivações meramente