1- (UPE/2008)
O maiúsculo e o minúsculo
É lastimável quando alguém simplifica em demasia as realidades complexas: perde a proporção dos
fatos e se põe a fazer afirmações desprovidas de qualquer fundamento. Enquanto essas simplificações
permanecem nos limites estritos do idiossincrático, parece não haver maiores problemas, afinal cada um
acredita naquilo que bem lhe apraz. Contudo, quando essas simplificações ultrapassam tais limites e
começam a sustentar ações com repercussão para além do idiossincrático, a situação se torna, no mínimo,
preocupante.
É o que tem ocorrido ultimamente com certa discussão em torno da língua. Nessa área, há, sem
dúvida, questões maiúsculas a serem enfrentadas. O Brasil precisa desencadear um amplo debate com vista à
elaboração de uma nova política linguística para si, superando os efeitos deletérios de uma situação ainda
muito mal resolvida entre nós.
Essa nova política deverá, entre outros aspectos, reconhecer o caráter multilíngue do país (o fato de o
português ser hegemônico não deve nos cegar para as muitas línguas indígenas, europeias e asiáticas que
aqui se falam, multiplicidade que constitui parte significativa do patrimônio cultural brasileiro). Ao mesmo
tempo, deverá reconhecer a grande e rica diversidade do português falado aqui, vencendo, de vez, o mito da
língua única e homogênea.
Será preciso incluir, nessa nova política, um combate sistemático a todos os preconceitos linguísticos
que afetam nossas relações sociais e que constituem pesado fator de exclusão social. E incluir, ainda, um
incentivo permanente à pesquisa científica da complexa realidade linguística nacional e à ampla divulgação
de seus resultados, estimulando com isso, por exemplo, um registro mais adequado, em gramáticas e
dicionários, da norma-padrão real, bem como das demais variedades do português, viabilizando uma
comparação sistemática de todas elas, como forma de subsidiar o acesso escolar (hoje tão precarizado) ao
padrão oral e escrito.
Apesar de termos essas tarefas maiúsculas à frente, foi uma questão minúscula que, a partir de uma
grosseira simplificação dos fatos, acabou por tomar corpo em prejuízo de todo o resto: a presença de
palavras da língua inglesa em nosso cotidiano.
Uma observação cuidadosa e honesta dos fatos nos mostra que, proporcionalmente ao tamanho do
nosso léxico (composto por cerca de 500 mil palavras), esses estrangeirismos não passam de uma
insignificante gota d’água (algumas poucas dezenas) num imenso oceano.
Mostra-nos ainda mais (e aqui um dado fundamental): muitos deles, pelas próprias ações dos
falantes, estão já em pleno refluxo (a maioria terá, como em qualquer outra época da história da língua, vida
efêmera).
(Carlos Alberto Faraco. Folha de S. Paulo. 13/05/2001.)
O texto traz referências à questão da variação linguística. Quanto ao desenvolvimento desse tema, e com
base nas informações dadas no texto, analise as seguintes considerações.
I. O Brasil pode ser reconhecido como um espaço geográfico-cultural que abarca línguas de
diferentes origens, embora o português seja, no país, a língua dominante.
II. A hegemonia do português de que fala o texto A significa a superioridade intrínseca dessa língua
em relação às outras aqui faladas. As línguas indígenas, por exemplo, são línguas mais pobres
que o português.
III. Os preconceitos linguísticos têm funcionado como fatores de discriminação social. Isso se deve
ao fato de que existem grandes simplificações em torno das questões linguísticas, concretamente,
em torno das variedades do português.
IV. Pesquisas científicas poderiam fundamentar uma compreensão mais consistente da complexa
realidade linguística nacional, a qual não se deve render a simplificações peculiares a
determinados grupos sociais.
V. A visão de uma língua única e homogênea, com uma norma-padrão devidamente registrada,
poderia subsidiar um ensino mais satisfatório e relevante da língua portuguesa.
Estão CORRETAS apenas as considerações feitas nos itens:
A) I, III e IV.
B) I e II.
C) III, IV e V.
D) I e IV.
E) I e V.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
A) I, III e IV.
Explicação:
Confia no pai
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