Pedagogia, perguntado por desativado5189, 5 meses atrás

1)      Os Africanos acreditam que ocorre algo após a morte? Em que eles acreditam?​

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Respondido por geneluciadalpiaz
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Resposta:

No Candomblé, a morte não significa a extinção total, ou aniquilamento. Morrer é uma mudança de estado, de plano de existência; fazendo parte do ciclo, ao mesmo tempo religioso e vital, que possui início, meio e fim.

Explicação:

É bem sabido o quanto a historiografia brasileira viveu, por décadas, intoxicada pelo marxismo. Uma lufada de ar, porém, foi trazida pela Nova Esquerda através da obra de Edward Palmer Thompson.

Prescindindo das incongruências do pensamento do marxista britânico — qualificado por Roger Scruton como menos um sábio que um crédulo, pela histeria com que ele se autoproclamava marxista apesar de ser tão heterodoxo —, interessa anotar aqui que o autor ajudou os historiadores brasileiros a estarem mais voltados para a antropologia e a reabilitarem o indivíduo a despeito das explicações totalizantes do marxismo.

Assim, a discussão sobre a escravidão passou a incluir relações sociais concretas, a experiência dos africanos no cativeiro, a solidariedade e os atritos entre os agentes, etc. Novos campos de pesquisa no Brasil passaram a falar da resistência escrava, da formação dos quilombos, da configuração familiar, do desenvolvimento das irmandades negras, entre outras questões.

Nessa linha, um tópico de pesquisa possível consiste na análise da prática dos enterramentos dos escravos, tomando-se os cemitérios de pretos novos como referência. Ora, a primeira questão se impõe é: a inumação ali realizada resguardava algum aspecto da cultura africana?

Segundo o historiador Flávio Gomes, há registros no Rio de Janeiro setecentista de “africanos centrais, angolas e benguelas. Há igualmente […] para africanos ocidentais, denominados minas, talvez batizados nas paróquias urbanas” (GOMES, 2012, p. 82). É natural, portanto, questionar a existência de uma cultura compartilhada por pessoas de tão variegada procedência.

Baseando-se em outros autores, Robert Slenes argumenta que realmente há um conjunto de valores comuns a várias áreas culturais diferentes:

Valores ligados ao conceito de “ventura-desventura” […], à ideia de que o universo é caracterizado em seu estado normal pela harmonia, o bem-estar e a saúde, e que o desequilíbrio, o infortúnio e a doença são causados pela ação malévola de espíritos ou de pessoas, frequentemente através da feitiçaria. Dentro dessa visão de mundo, a manutenção de um estado de pureza ritual, normalmente centrado em objetos ou preparações medicinais consagrados […] que medeiam a relação entre os homens e os espíritos, é o que garante a realização das metas culturais mais importantes. (SLENES, 1999, p. 143)

Relativamente à morte, em princípio ela contém — para os africanos da Guiné — um caráter mágico e exige que, nos primeiros atos fúnebres (ritos de passagem), se averigue a causa mortis e se procedam os jogos divinatórios e sacrifícios cabíveis. A preparação do corpo, da cova, do ataúde, da “bagagem” do defunto e dos coveiros é meticulosa. Por um longo tempo ainda se preveem ritos de permanência, até que o homem desaparecido se transforme em ancestral.

Por sua vez, a escatologia e a devoção cristãs pelos defuntos — potencializadas no período pós-tridentino por motivos apologéticos — sem dúvida contribuíram para a transferência das práticas africanas à praxe católica corrente na América portuguesa, facilitando sua absorção.

Ao falar do tratamento dispensado aos mortos na Inglaterra do século XVIII, E. P. Thompson faz referência ao tabu popular do “respeito, arraigado em superstições, pela integridade dos cadáveres” (THOMPSON, 2001, p. 242). Sem acolher o aspecto pejorativo de tal avaliação, é razoável afirmar que a morte sempre exerce certo horror sagrado sobre o homem, horror que o homem busca controlar mediante rituais religiosos.

Muito embora o cristianismo se impusesse como a prática legítima e as tradições religiosas africanas se encontrassem desenraizadas e desarticuladas no solo brasileiro, são conhecidas tanto a existência de mandingueiros na Colônia quanto as soluções de compromisso que a massa de escravos parcamente evangelizada fazia entre crenças opostas.

Apesar da crescente patrimonialização étnica operada sobre a religiosidade afro-brasileira daí nascida, está claro que a amálgama religiosa tem múltipla procedência. Nesse contexto multivariado, Mary Karasch descreve o esforço dos negros em formar suas próprias irmandades dentro do ambiente católico

… a fim de assegurar-se de benefícios importantes […] serviços religiosos básicos, como missa, sacramentos e orações pelos mortos, bem como prover lugar para enterrar seus membros. De outro modo, a vala comum da Santa Casa os esperava. Tendo em vista as crenças religiosas africanas na necessidade de um ritual apropriado no enterro, em combinação com tradições católicas que enfatizavam o enterro em local consagrado e rezas pelas almas dos mortos, as irmandades de negros e pardos eram essenciais na prestação desses serviços aos membros e suas famílias.

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