1: "O almirante Colombo encontrou, quando descobriu esta ilha Hispaniola (atual Ilha de São Domingos),
um milhão de índios e índias (...) dos quais, e dos que nasceram desde então, não creio que estejam vivos,
no presente ano de 1535, quinhentos, incluindo tanto crianças como adultos, que sejam naturais, legítimos
e da raça dos primeiros índios. (...) Alguns fizeram esses índios trabalhar excessivamente. Outros não lhes
deram nada para comer como bem lhes convinha. Além disso, as pessoas desta região são naturalmente
inúteis, corruptas, de pouco trabalho, melancólicas, covardes, sujas, de má condição, mentirosas, sem
constância e firmeza (...) Vários índios, por prazer e passatempo, deixaram-se morrer com veneno para
não trabalhar. Outros se enforcaram pelas próprias mãos. E quanto aos outros, tais doenças os atingiram
que em pouco tempo morreram (...) Quanto a mim, eu acreditaria antes que Nosso Senhor permitiu,
devido aos grandes, enormes e abomináveis pecados dessas pessoas selvagens, rústicas e animalescas, que
fossem eliminadas e banidas da superfície terrestre (...)" (Extraído de: Gonzalo Fernandes de Oviedo.
L’Histoire des Indes, 1555. Em: Ruggiero Romano. Mecanismos da conquista colonial. São Paulo,
Perspectiva, 1973, p. 76.)
TEXTO 2: “Nem a antropofagia nem o sacrifício de vítimas humanas aos deuses, no caso dos índios, são
delitos que justifiquem a guerra contra eles; em primeiro lugar, porque é muito reduzido o número de
casos, e em segundo, porque tal antropofagia e tal imolação fazem parte essencial de seus ritos religiosos
(...) a mudança de religião, mesmo que se trate de conversão religião verdadeira (o catolicismo), é assunto
que não deve ser tratado levianamente nem imposto pela força, pois não há passo mais penoso e
importante para um homem do que o de abandonar sua religião primitiva, mesmo que ela tenha entre seus
ritos o sacrifício de vítimas humanas. (In: LOSADA, Angel. Bartolomé de las Casas – o apóstolo dos
índios da América Espanhola no século XVI. Rio de janeiro: O Correio da Unesco, n. 8, ago. 1975, p.9)
1 – Discuta os fatores que tornaram possível a um número tão diminuto de espanhóis conquistar um império
tão vasto no continente americano.
2 – O que explica a enorme redução da população indígena no continente americano?
3 – Pelo que foi exposto nos textos 1 e 2, qual era o julgamento dos europeus em relação à população
indígena?
Soluções para a tarefa
Resposta:
As principais razões da vitória dos espanhóis sobre os povos pré-colombianos não estiveram ligadas à superioridade em termos de inteligência dos europeus frente aos outros povos. Por uma coincidência de fatores, os europeus estavam bem melhor preparados para o conflito com os incas e com os astecas que o contrário. Alguns fatores para o sucesso nessa invasão foram:
a) As doenças epidêmicas trazidas pelos espanhóis (que em pouco tempo atingem quase toda a população devido à capacidade de contagiar e espalhar-se rapidamente) não existiam na América. Os europeus trouxeram a gripe, a varíola, o sarampo, a caxumba, a tuberculose, a peste negra, o tifo, dentre outras. Através dos barcos vindos da África, também chegaram aqui a malária, a dengue, e a febre amarela. Estima-se, segundo os estudos, que mais de 90% da população indígena tenha morrido após os primeiros contatos com os europeus em razão de contágio dessas enfermidades. Posteriormente, essa situação resultou na morte de milhares de índios em poucas semanas, o que causou a desestruturação de muitas sociedades pré-colombianas, como ocorreu entre os incas na época da conquista espanhola, dificultando a organização necessária para lutar contra os espanhóis;
b) Devido às gigantescas quantidades de vítimas das epidemias enquanto os europeus não eram tão afetados pelas mesmas doenças (em razão de, na Europa, após dezenas ou centenas de gerações, a maior parte das pessoas eram descendentes daqueles que apresentavam algum tipo de resistência a essas doenças) houve uma dominação cultural, pois os nativos passaram a acreditar que isso se devia ao deus dos europeus ser mais forte que os deles, de modo que resultou em conversão em massa em busca de salvação contra as epidemias e, em parte, por isso, até hoje, a maioria da população que habita a América é cristã.
c) Os europeus apresentavam estratégias militares, conhecimentos históricos, artimanhas e as tecnologias mais avançadas e utilizaram-nas contra os povos que viviam no continente americano. Um exemplo de artimanha utilizada, por exemplo, era dizer aos índios que, se eles não dissessem onde encontrar ouro, os portugueses colocariam fogo nos rios. Para provar esses poderes, colocavam fogo em algo que parecia água e que os índios não conheciam: o álcool. Os espanhóis que lutaram contra os incas, no Peru, já sabiam das estratégias que deram certo contra os astecas, no México. Além de que os europeus já possuíam livros e conhecimentos adquiridos após séculos de guerras e aprendizado de técnicas com povos asiáticos, árabes, africanos, como o uso da pólvora e do canhão. Outra grande estratégia foi a técnica clássica e antiga do "dividir para conquistar", de modo que os europeus estimulavam as brigas e desafetos entre as tribos indígenas para enfraquecer os nativos-americanos.
d) Os povos nativos não dispunham de animais e plantas tão úteis e eficientes quantos os que os europeus tinham. Afinal, não havia burros, cavalos, porcos, galinhas, cabras, ovelhas, trigo, dentre outros seres domesticados de grande utilidade ao homem, dada a inexistência dessas espécies no continente americano. Os poucos seres "domesticados" a duras custas foram, por exemplo, o porquinho-da-índia ou preá, a lhama, a alpaca, o peru, o milho, a batata, e a abóbora.
e) Os espanhóis se aliaram a algumas tribos, conseguindo acesso aos segredos e recursos humanos suficiente para vencer as demais tribos. Comparando com os portugueses, aqui no Brasil, por exemplo, utilizamos o termo "tupiniquim" para nos referirmos a nós mesmos, haja vista que a tribo dos tupiniquins foi uma que se aliou aos portugueses. Essas tribos parceiras os auxiliaram, especialmente através dos descendentes entre ambos, os mamelucos, a conhecerem os segredos e as técnicas de sobrevivência no Novo Mundo, fazendo as pontes que permitiram uma maior dominação.
f) Os incas e astecas não dispunham de armas de aço ou o cavalo, elementos novos e importantes nos combates, causando espanto, medo, e possibilitando associar os europeus a deuses, no início da invasão.
Desse modo, essas foram algumas das principais razões pelas quais os povos nativo americanos foram derrotados, assassinados, escravizados, e invadidos pelos europeus. Vale lembrar que, mesmo assim, não foi uma vitória fácil.
Explicação: