1. Em qual gênero literário você enquadraria o texto acima?
2. Dê uma justificativa para sua resposta anterior.
O Grande Uzk
É difícil explicar, mas no momento que a cortina se abriu eu senti qualquer
coisa diferente no ar, assim um arrepio vindo não sei se de dentro ou de
fora de mim, uma mudança na qualidade dos sons, como se meus ouvidos
tivessem acabado de passar por uma limpeza sensacional, e sei que todo
mundo sentiu a mesma coisa. O homem que estava no palco de braços
abertos para a plateia – o mesmo que eu tinha visto dias antes na sala de
espera – era novamente o Grande Uzk dos cartazes.
O Grande Uzk deixou que todos o vissem com calma, girando lentamente o
corpo para o lado, depois para o outro, um leve sorriso no rosto
transformado.
Ninguém se mexia, ninguém falava, e acho que se ele ficasse naquela
posição de cruz até o fim do espetáculo ninguém ia reclamar. Não vi quando
ele começou, foi tudo suave e natural.
Naquela noite, e nas outras, o Grande Uzk fez o que quis, virou o mundo
pelo avesso na nossa frente, desmanchou-o e montou de novo de maneira
diferente, nós vendo tudo e não acreditando, ainda hoje não acredito. Ele
voou como borboleta por cima da plateia, pousando aqui e ali, subindo e
baixando. Endureceu chamas de vela em forma de cabacinhas
avermelhadas e distribuiu as cabacinhas às senhoras. Mudou uma bola de
bilhar em cubo do mesmo peso, verificado em balança, e mostrou o cubo a
quem quisesse ver e pegar. Transformou areia em água, muita gente lavou
a mão nessa água e precisou enxugá-la. Jogou uma bandeja de sapos para
cima, pareceu que elas ia cair como sapos mesmo, por meio da queda
viraram beija-flores e saíram voando com aquele voozinho ora arisco ora
parado dos beija-flores, alguns encontraram a saída e se perderam na noite
lá fora. Atravessou uma parede de tijolos construída no palco na vista do
público por dois pedreiros e depois examinada por uma comissão escolhida
a esmo na plateia, tudo gente daqui, conhecida e respeitada, atravessou
para um lado, para o outro, quantas vezes quis, o público pedindo bis, ele
passando para lá e para cá como se não existisse obstáculo.
Claro que era truque, ilusão, mentira. Ninguém pode voar como borboleta,
atravessar uma parede compacta, transformar sapo em pássaro, areia em
água, fogo em cristal. Só podia ser mentira. Mas o Grande Uzk fez isso, nós
víamos. Mas só podia ser mentira. Mas ele fez, nós vimos.
Saímos de teatro maravilhados e assustados, procurando explicações e não
encontrando. No meu caso quanto mais eu pensava menos entedia, e mais
assustado ficava. Não seria perigoso mexer com aquelas coisas, mostrar
que o mundo que conhecemos desde pequenos não passa de ilusão ou não
é único? Sendo assim, qual é o mundo real? Será um mundo em que pedras
e sapos voam, areia molha, fogo pode ser cortado e guardado no bolso? E
será que para um mundo que assim esse nosso é que é absurdo?
Um companheiro meu chegou a insinuar que talvez não tivesse acontecido
nada daquilo: o mágico podia ter espalhado um pó invisível ou um gás no
teatro, nós cheiramos, dormimos e sonhamos. Podia ser. Tudo era possível.
Qualquer explicação servia.
VEIGA, José J. – Sombras de reis barbudos, 5a ed., páginas 59 e 60.
Civilização Brasileira, 1978.
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Resposta:
Não sei,releia o texto de novo
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