quando Sócrates desenvolvia a filosofia com os discípulos o que procurava a demonstrar?
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Segundo os escritos de Íon de Quios e Aristóxenes, o pensador Sócrates teria estudado com Arquelau, discípulo de Anaxágoras, o primeiro filósofo importante de Atenas. Quando rapaz, participou de várias batalhas da guerra do Peloponeso e só muito após veio a se casar com Xantipa, mãe de seus três filhos. Fisicamente (como todo bom filósofo) era o oposto do ideal clássico de beleza: nariz achatado, olhos esbugalhados e barriga saliente, sempre cercado de jovens discípulos, gozando de muita popularidade em Atenas, embora seus ensinamentos colaborassem para angariar grande número de inimigos. Passava a maior parte do tempo ensinando em lugares públicos: mercados, ginásios e praças, e diferente dos filósofos profissionais - ditos sofistas, que combatia com vigor - não cobrava por suas lições. Evitava intervir pessoalmente em assuntos políticos, mas pelo menos uma vez, entre 406 e 405 a.C., chegou a integrar o Conselho Legislativo de Atenas. No ano seguinte, 404 a.C., arriscou a própria vida ao recusar-se a colaborar em manobras políticas arquitetadas pela dinastia dos Trinta Tiranos, que governava a cidade e segundo Cícero: “Sócrates fez a filosofia descer dos céus à terra”, eis que, antes dele, os filósofos buscavam obstinadamente uma explicação para o mundo natural, a physis, mas, para Sócrates, a especulação filosófica devia se voltar para outro assunto, muito mais urgente: o homem e tudo o que fosse humano, como a ética e a política. Dizia que a filosofia não era possível enquanto o indivíduo não se voltasse para si próprio e reconhecesse suas limitações. Adotando por lema a máxima constante no portal do Oráculo de Delfos “Conhece-te a ti mesmo”, para ele, a melhor maneira de abordar um tema era o diálogo, por meio do método indutivo que denominou “maiêutica”, (o mesmo que obstetrícia, alusão ao ofício de sua mãe), método possível de trazer a verdade à luz. Assim, ele se dirigia a adolescentes, como Lísias, ou a um militar como Laques ou a sofistas consagrados como Protágoras e Górgias - e os interrogava a respeito de assuntos que eles julgavam saber. Dotado de inteligência e perspicácia que certamente o colocaria milênios à frente, em comparação com o “homus urbanus” atual, o seu senso de humor confundia os interlocutores, que acabavam confessando ignorância, da qual Sócrates extraía sua sabedoria. O exemplo clássico da aplicação da maiêutica é o diálogo platônico intitulado Mênon, no qual Sócrates leva um escravo ignorante a descobrir e formular vários teoremas de geometria. A indução, em síntese, consiste na apreensão da essência (do universal, não contido no particular), na determinação conceitual e na definição. Para Sócrates, o importante não era definir, por exemplo, a beleza do cavalo, dos objetos inanimados, do escudo, da espada ou da lança, mas à beleza em si mesma, em sua essência ou determinação universal. Segundo disse Aristóteles, tanto a indução como a definição podem ser atribuídas a Sócrates, cujo pensamento, a rigor, não se confunde com o de seu aluno Platão. A teoria socrática das essências, contudo, teria preparado a teoria platônica das idéias. Por outro lado, desinteressado da física e preocupado apenas com coisas morais, a antropologia socrática é a essência capaz de regular a conduta humana e orientá-la no sentido do bem. A virtude supõe conhecimento racional do bem, razão pela qual se pode ensinar. O que há de comum entre todas as virtudes é a sabedoria, que, segundo Sócrates, é o poder da alma sobre o corpo, a temperança ou o domínio de si mesmo. Assim, possibilitando o domínio do corpo, a temperança permite que a alma realize as atividades que lhe são próprias, chegando à ciência do bem e assim sendo, para fazer o bem só basta conhecê-lo. Todos os homens buscam a felicidade, isto é, o bem e por isso mesmo, o vício é apenas ignorância, já que ninguém pode fazer o mal voluntariamente. Sócrates lançou as bases do racionalismo idealista, que seu discípulo Platão desenvolveu mais tarde em sua teoria das idéias. O método e as intenções de Sócrates constituíram o início da reação helênica contra o relativismo defendido pelos sofistas, que tinha levado o pensamento filosófico à ruína. Diante do crescente individualismo e da crise de valores que ameaçavam a democracia ateniense, em função do declínio do culto às divindades gregas, as questões sobre a melhor forma de governo civil e a moral individual tornaram-se prementes. Entretanto, a resposta de Sócrates, que pregava um sistema moral absolutamente alheio às doutrinas religiosas e admitia a aristocracia - o governo dos melhores - como a forma desejável de administração do estado, fez com que se indispusesse com as autoridades conservadoras, o que acabou lhe custando a vida: Em 399 a.C., Sócrates foi acusado de corromper a juventude e desdenhar o culto aos deuses tradicionais.
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