Artes, perguntado por jacienepindobeira100, 11 meses atrás

Qual mensagem Mortes das casas de ouro preto de Carlos drummond passa

URGENTE

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Respondido por viniciuspasqualini88
4

Resposta:

Sobre o tempo, sobre a taipa,

a chuva escorre. As paredes

que viram morrer os homens,

que viram fugir o ouro,

que viram finar-se o reino,

que viram, reviram, viram,

já não veem. Também morrem.

Assim plantadas no outeiro,

menos rudes que orgulhosas

na sua pobreza branca,

azul e rosa e zarcão,

ai, pareciam eternas!

Não eram. E cai a chuva

sobre rótula e portão.

Vai-se a rótula crivando

como a renda consumida

de um vestido funerário.

E ruindo se vai a porta.

Só a chuva monorrítmica

sobre a noite, sobre a história

goteja. Morrem as casas.

Morrem, severas. É tempo

de fatigar-se a matéria

por muito servir ao homem,

e de o barro dissolver-se.

Nem parecia, na serra,

que as coisas sempre cambiam

de si, em si. Hoje, vão-se.

O chão começa a chamar

as formas estruturadas

faz tanto tempo. Convoca-as

a serem terra outra vez.

Que se incorporem as árvores

hoje vigas! Volte o pó

a ser pó pelas estradas!

A chuva desce, às canadas.

Como chove, como pinga

no país das remembranças!

Como bate, como fere,

como traspassa a medula,

como punge, como lanha

o fino dardo da chuva

mineira, sobre as colinas!

Minhas casas fustigadas,

minhas paredes zurzidas,

minhas esteiras de forro,

meus cachorros de beiral,

meus paços de telha-vã

estão úmidos e humildes.

Lá vão, enxurrada abaixo,

as velhas casas honradas

em que se amou e pariu,

em que se guardou moeda

e no frio se bebeu.

Vão no vento, na caliça,

no morcego, vão na geada,

enquanto se espalham outras

em polvorentas partículas,

sem as vermos fenecer.

Ai, como morrem as casas!

Como se deixam morrer!

E descascadas e secas,

ei-las sumindo-se no ar.

Sobre a cidade concentro

o olhar experimentado,

esse agudo olhar afiado

de quem é douto no assunto.

(Quantos perdi me ensinaram.)

Vejo a coisa pegajosa,

vai circunvoando na calma.

Não basta ver morte de homem

para conhecê-la bem.

Mil outras brotam em nós,

à nossa roda, no chão.

A morte baixou dos ermos,

gavião molhado. Seu bico

vai lavrando o paredão

e dissolvendo a cidade.

Sobre a ponte, sobre a pedra,

sobre a cambraia de Nize,

uma colcha de neblina

(já não é a chuva forte)

me conta por que mistério

o amor se banha na morte.

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