[...]
Primeiramente, por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Esta proposição é de fé, definida no Concílio Tridentino, e no nosso Evangelho a temos. Do trigo que deitou à terra o semeador, uma parte se logrou e três se perderam. E porque se perderam estas três? -- A primeira perdeu-se, porque a afogaram os espinhos; a segunda, porque a secaram as pedras; a terceira, porque a pisaram os homens e a comeram as aves. Isto é o que diz Cristo; mas notai o que não diz. Não diz que parte alguma daquele trigo se perdesse por causa do sol ou da chuva. A causa por que ordinariamente se perdem as sementeiras, é pela desigualdade e pela intemperança dos tempos, ou porque falta ou sobeja a chuva, ou porque falta ou sobeja o sol. Pois porque não introduz Cristo na parábola do Evangelho algum trigo que se perdesse por causa do sol ou da chuva? -- Porque o sol e a chuva são as afluências da parte do Céu, e deixar de frutificar a semente da palavra de Deus, nunca é por falta: do Céu, sempre é por culpa nossa. [...]
VIEIRA, Pe. António. Sermão da Sexagésima. Disponível em: .
Acesso em 20 mai. 2019.
No Sermão da Sexagésima, escrito por Pe. António Vieira, há uma minuciosa concepção estética na construção do texto ligada aos procedimentos literários que estavam em voga no séc. XVI, apesar de seu conteúdo não-ficcional. Podemos destacar, entre elas:
A)O conceptismo, na construção marcadamente lógica do texto, e a linguagem apelativa, própria do gênero sermão.
B)As frases interrogativas, reforçando o caráter apelativo, e a antítese, através da construção lógica do texto.
C)A antítese, com a aproximação e tensão de ideias contrárias, e o classicismo, no uso de vocábulos e expressões arcaicas.
D)O hipérbato, com a inversão dos constituintes sintáticos na sentença, e o paradoxo, com a aproximação absurda de ideias contraditórias.
E)A reverência à natureza, com o uso de imagens naturais na construção do texto, e o classicismo, no uso de vocabulário e expressões arcaicas.
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É correta a alternativa E.
Reverenciar a natureza era uma forma comum que o Padre Vieira utilizava-se para poder se aproximar dos povos nativos, que em sua religião "natural" também o faziam.
Ao associar o esplendor natural com a glória de Deus, Vieira conseguiria melhor explicar os seus pontos e converter, por associação, os ouvintes. Também empregava, ao usar o Evangelho, tendências do classicismo, que aparecem nas parábolas que cita - no caso do trecho, a do semeador, que associa com o dever dos jesuítas de converter os nativos.
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