Português, perguntado por lucascs17ka, 2 meses atrás

PRECISO DA INTERPRETAÇÃO DESSE POEMA

A meu Pai morto

Madrugada de Treze de Janeiro,
Rezo, sonhando, o ofício da agonia.
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
Sem um gemido, assim como um cordeiro!

E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro!
Quando acordei, cuidei que ele dormia,
E disse à minha Mãe que me dizia:
"Acorda-o"! deixa-o, Mãe, dormir primeiro!

E saí para ver a Natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem uma névoa no estrelado véu...

Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!

Soluções para a tarefa

Respondido por celog

Augusto dos Anjos versou neste soneto, "A meu Pai morto", acerca da agônica experiência de perder o pai, que morreu enquanto dormia. Para desenvolver o tema, o poeta usou de referências religiosas e à natureza, elaborando uma conexão rara em sua poesia: a espiritualidade e a ciência.

Interpretação do soneto de Augusto dos Anjos

O poema em questão se trata de um soneto. Sua forma é característica e segue o padrão:

Dois quartetos
Dois tercetos
Versos decassílabos
Esquema de rimas ABBA ABBA CCD CCD

O tema da composição é a morte do pai do eu lírico. A descrição do evento pode ser separada da seguinte forma:

1ª quadra: o eu lírico data o óbito, uma madrugada de treze de janeiro, e descreve que o evento foi sem alardes, comparando a serenidade em que partiu o falecido à de um cordeiro
2ª quadra: o poeta admite que nem ele e nem sua mãe perceberam que o pai estava morrendo: pensaram que apenas dormia
1ª terceto: uma ideia científica e filosófica é versada: a Natureza permanecia imutável, indiferente ao falecimento. Não perdera a sua beleza essencial, pois o que é material não acaba, apenas se transforma, mesmo que seja através da decomposição do corpo e extinção da consciência
2ª terceto: o poema chega ao fim com uma referência bíblica e apelo espiritual, pouco comum na obra de Augusto dos Anjos: contrapondo a ideia científica anterior, sobre a natureza mutável do mundo material, o poeta relata a impressão de ver subir ao céu a alma de seu pai, comparando esse momento ao episódio bíblico do profeta Elias, que ao invés de morrer no mundo material foi levado ao céu vivo de corpo e alma em uma carruagem de fogo.