Question

“Portanto, a proposição que o entendimento só pode fazer dos seus princípios a priori ou de todos os seus conceitos um uso empírico e jamais um uso transcendental (...). O uso transcendental de um conceito, em qualquer princípio, consiste em ser referido a coisas em geral e em si mesmas; o uso empírico, porém, consiste em ser referido meramente a fenômenos, isto é, a objetos de uma experiência possível.”
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Nova Cultural. 2005. p.151
O fragmento de texto fala de uma importante distinção que Kant faz em suas teorias. Considerando seus conhecimentos sobre a filosofia kantiana, assinale a alternativa correta:

(A)
Kant faz uma distinção entre conhecimento puro e empírico: o primeiro pode ser considerado o conhecimento que advém dos sentidos e o último, que advém da razão.

(B)
Kant faz a distinção entre fenômeno e coisa em si: só se pode conhecer as coisas em si, quando se faz o uso transcendental de um conceito, como visto no fragmento de texto.

(C)
Ao falar de coisas em si mesmas, observa-se que elas são objeto de uma experiência possível, ou seja: é possível conhecê-las.

(D)
O fenômeno pode ser entendido, em comparação com o texto, com o uso transcendental de um conceito: quando se vai para além dos objetos e atinge-se a coisa em si.

(E)
O texto trata da distinção entre fenômeno e coisa em si: não se podem conhecer as coisas em si, fazendo o uso transcendental dos conceitos; mas somente fenômenos, que estão relacionados com uma experiência possível.

Answer 1

O entendimento só pode conhecer a si mesmo (as suas próprias funções lógicas e de síntese) e aquilo que ele processa, porque lhe estará sempre submetido. Não serve para conhecer nada em si fora dele mesmo. Por isso ele não pode conhecer as coisas em si mesmas, que são sempre exteriores, ou melhor, transcendentes, porque as coisas em si mesmas não necessariamente obedecem às regras do entendimento e, portanto, não podem ser conhecidas.

O entendimento só pode conhecer os fenômenos (que é o que chamamos de conhecimento empírico), porque os fenômenos são as coisas como elas nos aparecem, ou seja, depois de processadas pelo entendimento, pelo que sempre poderemos conhecer as regras a que se submetem, que são as próprias regras do entendimento. Portanto, a resposta correta é a letra "e".

Cuidado que há uma tentação de se optar pela letra "a". Mas ela está errada. Não há conhecimento possível que venha puramente da razão (observe que "razão" é diferente de "entendimento", e a razão, por outro lado, é a destinatária do conhecimento, mas em nada pode contribuir para a formação do conhecimento), e o conhecimento dos fenômenos não depende unicamente dos sentidos, mas também do entendimento.