porque as lutas dos negros e abolicionistas foram fundamentais para a abolição da escravidão no Brasil?
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Resposta:Durante a primeira metade do século XIX as rebeliões escravas estavam tirando o sono dos latifundiários, já que a ameaça apresentada pelo exemplo da independência do Haiti ainda era recente e havia indícios de que os africanos escravizados sabiam do processo de abolição e independência haitiana.
Só na Bahia foram mais de 30 revoltas até 1835, sendo a mais conhecida a Revolta dos Malês. Em Minas Gerais também ficou conhecida a rebelião de Carrancas, ocorrida em 1833, no contexto da instabilidade política do Período Regencial. Em 1838, houve, no Rio de Janeiro, a revolta de Manoel Congo, ocorrida no município de Vassouras. Entre 1839 e 1842, a Balaiada no Maranhão também levou preocupação à elite, principalmente pelo grupo de escravos liderados por Cosme Bento das Chagas, que se juntou aos balaios, mas que acabou derrotado e executado.
Todas essas ocorrências servem para que possamos refletir sobre o processo de abolição da escravidão no Brasil. A Abolição da escravidão foi fruto apenas das pressões internacionais, como da Inglaterra, e do movimento abolicionista a partir da década de 1870, composto em sua maioria por pessoas brancas e livres, ou seria a abolição decorrente da luta dos próprios africanos e seus descendentes contra a escravidão?
Estudos historiográficos das últimas décadas do século XX e de início do XXI apontam a existência de um forte movimento de luta contra a escravidão realizada pelos próprios escravos, a força de trabalho que durante quatro séculos criou as riquezas no Brasil.
Apesar de terem sido intensas na primeira metade do século XIX, rebeliões de grande monta se tornaram mais raras na segunda metade do século. Mas em seu lugar as fugas, a formação de quilombos e a resistência cotidiana no trabalho contribuíram para pressionar o Estado a colocar fim à escravidão.
Essas três formas de luta intensificaram-se após o fim do tráfico negreiro em 1850, resultando na formação de quilombos próximos às cidades, na intensificação de ações de resistência e de reprodução das comunidades, como furtos e saques, além de ações contra os senhores e prepostos, que muitas vezes resultavam em mortes.
Esse movimento de resistência foi anterior ao movimento abolicionista e foi por sua virulência, além de ser uma ação autônoma da classe trabalhadora escrava, que houve a pressão que resultou no surgimento da legislação abolicionista.
Dois motivos contribuíram para essa situação: a intensificação do tráfico interprovincial e a chamada crioulização da escravatura, com a maior utilização de escravos nascidos no Brasil.
Com o fim do tráfico internacional de escravos, os cativos passaram a ser comercializados das províncias do Norte e do Sul para as do Sudeste, em ascensão econômica com a produção de café. Muitos desses escravos eram nascidos no Brasil, sendo ainda considerados escravos “indisciplinados”, carregando com eles uma noção de “cativeiro justo”, ao qual impunham parâmetros de formas de organização, bem como de intensidade e métodos de trabalho aos seus senhores.
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A “indisciplina” gerava constantes conflitos com os senhores e feitores, resultando em fugas e, muitas vezes, em mortes. Nesse sentido, as ações realizadas pelos escravos pressionaram o Estado brasileiro, somadas à pressão internacional, a criar uma legislação que garantisse gradualmente a abolição. Gradualmente, pois se temia que uma abolição abrupta levasse o país ao caos econômico, bem como ao estímulo uma revolução.
Os debates para a criação das leis tinham como argumentos os aumentos de rebeliões escravas nas décadas de 1850 e 1860, demonstrando o temor das elites com a resistência à escravidão