porque a Alemanha adotou em 1916 o serviço militar obrigatório?
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Uma espécie de ritual de iniciação cívica espera neste 1989 o 1,4 milhão de brasileiros que completam 18 anos: comparecer a uma junta de alistamento militar. Destes, porém, algo como um em cada dez irá realmente vestir farda, pois as Forças Armadas não comportam a multidão de jovens que o serviço militar obrigatório despeja anualmente às portas dos quartéis. Nem por isso o ato de se alistar perde em simbolismo e tradição – estar apto a pegar em armas em defesa dos seus é um comportamento que remonta ao tempo dos mais antigos ancestrais do homem. Mas o serviço militar universal e obrigatório – um dever de todo cidadão, dentro de certas condições, que variam de país para pais – é uma invenção muito recente: surgiu da Revolução Francesa, exatamente há duzentos anos.
Logo após a tomada da Bastilha, a 14 de julho de 1789, que dá inicio à derrubada da monarquia, os revolucionários franceses tornaram totalmente voluntário o serviço militar: só um exército assim constituído seria digno de uma nação de homens livres, iguais e fraternos. No entanto, a República logo se via obrigada a esquecer aquele conceito para defender-se da invasão de tropas dos reinos vizinhos, cujos soberanos temiam propagar-se pela Europa o mal republicano.
“Os homens jovens deverão lutar, os casados forjarão as armas e transportarão os suprimentos, as mulheres confeccionarão tendas e uniformes e servirão nos hospitais, os meninos transformarão a roupa branca em bandagem, os velhos serão levados às praças públicas para elevar o moral dos combatentes e pregar a unidade da República e o ódio aos reis”, determinava a ordem da levée en masse (recrutamento em massa),baixada pela Convenção da Revolução Francesa a 23 de agosto de 1793. Para muitos historiadores, esse foi o primeiro decreto de serviço militar universal e obrigatório.
Com a levée en masse, a França recrutou 300 mil cidadãos e expulsou os invasores. Uma importante mudança conceitual estava em curso. No passado, lutar pelo rei era uma obrigação que fazia parte da condição de súdito. Na nova França, o serviço militar tornava-se um dever do cidadão livre para com o Estado. O recrutamento universal, ao chamar às casernas todas as classes sociais, era igualmente uma resposta revolucionária ao sistema anterior, baseado nos odiosos privilégios característicos do ancien régime. Ainda estava vivo na memória do povo, por exemplo, o comportamento selvagem das duas companhias de mosqueteiros (os cinza e os negros) estacionadas em Paris no reinado de Luís XIV, o Rei Sol (1638-1715).